#118: Milk Run

Em um mundo cada vez mais automatizado e interligado, ainda tem espaço para soluções logísticas inspiradas em práticas do século passado? Pode parecer estranho, mas a resposta é sim, e uma das mais eficazes atende pelo nome de Milk Run. Mas por que um modelo tão antigo ainda tem tanta relevância em um cenário onde se fala em drones, inteligência artificial e blockchain?

📦 Da coleta de leite à indústria automobilística

O termo “Milk Run” vem da coleta de leite nos Estados Unidos nos anos 1940 e 50, quando os caminhões passavam de casa em casa recolhendo leite de pequenos produtores até completar o volume total para entrega na fábrica. A sacada? Em vez de cada fazenda enviar um caminhão até o laticínio, um único veículo fazia um percurso otimizado, passando por todas elas. O conceito, simples na origem, virou um case de eficiência e, com o tempo, ganhou protagonismo em operações logísticas industriais.

O Milk Run moderno é muito mais do que uma rota otimizada: ele representa uma mudança de mentalidade, saindo do modelo tradicional de abastecimento, onde cada fornecedor entrega por conta própria, para um sistema coordenado, em que a transportadora (ou o próprio cliente) faz a coleta sequencial dos itens em cada fornecedor, seguindo uma rota planejada. E é exatamente isso que grandes empresas fazem. Um exemplo clássico é a Toyota com seu sistema de produção enxuta, onde ela coordena coletas nos fornecedores de peças com base no consumo real da fábrica, reduzindo estoques, evitando desperdícios e garantindo um fluxo constante de abastecimento. Esse modelo foi tão bem-sucedido que outras montadoras e indústrias adotaram o conceito.

O Milk Run otimiza o processo de atendimento entre diferentes fornecedores, reduzindo tempo e mão de obra.

🧠 O que faz o Milk Run ser tão interessante?

A resposta está no equilíbrio entre previsibilidade e flexibilidade, pois diferente das entregas pontuais ou chamadas emergenciais, o Milk Run é uma operação cíclica, normalmente com frequência diária ou semanal, que permite:

  • Reduzir a quantidade de caminhões na estrada;
  • Diminuir o custo total de transporte;
  • Aumentar o controle sobre os horários de coleta e entrega;
  • Reduzir estoques, mantendo apenas o necessário para a produção (Just-in-Time);
  • Diminuir a pegada de carbono da operação.

Tudo isso parece ótimo, mas é bom lembrar: o modelo exige disciplina. Atrasos, erros de separação ou falhas de comunicação em qualquer ponto da rota podem comprometer toda a cadeia.

🧩 Um quebra-cabeça que precisa se encaixar

Pense no Milk Run como uma rota escolar de van: a van tem um horário a cumprir, precisa passar em diversos endereços e garantir que todos os alunos cheguem no mesmo horário à escola. Se um aluno demora para sair de casa, atrasa o próximo. Se a rua do segundo aluno está em obra, o motorista precisa se virar para achar outro caminho. Na logística, os desafios são parecidos: um fornecedor pode não ter a carga pronta, o outro pode ter mais volume do que o previsto, e tudo isso precisa estar na fábrica no horário exato.

Por isso, empresas que operam com Milk Run geralmente contam com sistemas de roteirização, painéis de controle logístico em tempo real e processos bem definidos de conferência e comunicação entre as partes.

🗓 Dados que mostram a eficiência

Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) indicou que empresas que migraram para o modelo de Milk Run conseguiram uma redução média de 20% no custo com transporte e 15% na quantidade de estoque mantido nas fábricas. Já um estudo publicado pela Revista MundoLogística em 2023 destacou o caso de uma empresa do setor automotivo no Paraná, que reduziu de 30 para 12 viagens semanais com a adoção do modelo, resultando em 40% menos emissões de CO₂ no transporte de peças.

E não para por aí: empresas de outros setores também têm apostado no conceito, adaptando-o à sua realidade. Desde cervejarias artesanais, que organizam coletas em pontos de venda parceiros, até redes varejistas que coordenam o retorno de embalagens retornáveis usando a mesma lógica.

🔄 Milk Run também na logística reversa

Outro uso crescente do conceito está na logística reversa. Marcas que trabalham com refis, embalagens retornáveis ou que precisam recolher produtos para reciclagem vêm utilizando o modelo de Milk Run reverso, otimizando as rotas de coleta de resíduos ou produtos usados, evitando que cada ponto de coleta acione um transporte individual.

Em tempos de ESG e responsabilidade ambiental, essa aplicação ganha força e torna o Milk Run não só eficiente, mas também uma ferramenta estratégica para metas de sustentabilidade.

🧠 E o que isso tem a ver com você?

Mesmo que você não trabalhe em uma indústria ou com logística diretamente, o conceito está mais próximo do que imagina. Sabe quando você combina com seus colegas de trabalho para um revezamento no uso do carro até o escritório? Ou quando um vizinho se oferece para pegar as encomendas do condomínio inteiro na administração? São microversões do Milk Run: ações colaborativas que tornam um processo mais eficiente e menos custoso.

O desafio é fazer isso com consistência: planejar, confiar e executar com precisão. Parece fácil na teoria, mas sabemos que na prática exige organização e compromisso de todos os envolvidos.

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