#119: Tacógrafo

No mundo da logística, não faltam ferramentas criadas para melhorar o controle das operações, mas poucas têm uma função tão peculiar quanto o tacógrafo, aquele pequeno aparelho instalado no painel do caminhão ou do ônibus que tem muito mais a dizer do que apenas a velocidade do veículo: ele conta histórias. Histórias de trajetos longos, de pausas necessárias, de jornadas estendidas e de regras que, quando ignoradas, podem colocar vidas em risco. Mas por que falar de tacógrafo? O que esse equipamento tem de tão especial? Talvez porque, mesmo com toda a modernização dos sistemas de rastreamento e monitoramento em tempo real, ele continua sendo exigido por lei e segue sendo um termômetro da responsabilidade no transporte rodoviário. Vamos entender melhor como ele funciona?

🧭 O que é, afinal, um tacógrafo?

Se fôssemos resumir, diríamos que o tacógrafo é o equivalente a uma “caixa-preta” dos veículos de carga e transporte coletivo. Ele registra informações como:

  • Velocidade do veículo ao longo do tempo;
  • Distância percorrida;
  • Tempo de condução e paradas.

Mas, ao contrário do que muita gente pensa, o tacógrafo não é um simples velocímetro com memória. Ele é um instrumento de controle legal, exigido em diversos tipos de veículos, com regras específicas de manutenção, aferição e guarda de dados. Se você já trabalhou em transportadora ou mesmo já acompanhou a fiscalização de trânsito em rodovias, talvez tenha visto aquele disquinho de papel sendo retirado do aparelho por um agente da PRF. Hoje, ele pode ser digital, mas o princípio é o mesmo: mostrar como foi a condução daquele veículo em determinado período.

📜 Um pouco de história

A ideia de registrar a atividade de veículos não é nova. Na Europa, já se falava em instrumentos do tipo desde o final do século XIX, mas o modelo mais próximo do que conhecemos hoje começou a ganhar espaço em 1953, quando a Alemanha passou a exigir tacógrafos em veículos de transporte de carga e passageiros, como forma de combater o excesso de jornada dos motoristas.

No Brasil, o uso do tacógrafo passou a ser obrigatório em 1998, com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Desde então, todo veículo com mais de 4.536 kg de peso bruto total (PBT) ou com mais de 10 passageiros precisa ter o equipamento instalado e funcionando. E aqui vai uma curiosidade: segundo reportagem da Revista Transporte Mundial, estima-se que mais de 2 milhões de veículos no Brasil estejam obrigados a utilizar o tacógrafo atualmente, um número expressivo, considerando nossa malha rodoviária e o peso do modal rodoviário na economia nacional.

🧩 O tacógrafo como parte da rotina das operações

Pense em uma empresa de transporte que realiza viagens diárias entre São Paulo e Curitiba: o trajeto leva, em média, 6 horas. Se um motorista realiza esse percurso duas vezes por dia, com pouco tempo de intervalo, algo está errado, tanto do ponto de vista humano quanto legal. O tacógrafo serve justamente para evidenciar esse tipo de excesso.

Assim como um relógio de ponto mostra a jornada de um colaborador dentro do escritório, o tacógrafo registra a jornada do motorista na estrada, mas com um agravante: nesse caso, o desgaste físico afeta diretamente a segurança viária. A sonolência ao volante está entre as principais causas de acidentes nas estradas, e o controle de jornada, que pode parecer burocrático à primeira vista, tem papel direto na prevenção.

🔍 Tacógrafo digital, analógico e modular

O objetivo é o mesmo, mas aplicado com tecnologias distintas:

  • Tacógrafo analógico: é o modelo mais antigo. Utiliza discos de papel (diagrama) para registrar os dados e sua leitura é feita de forma visual, onde a interpretação dos dados depende de um certo grau de habilidade.
  • Tacógrafo digital: armazena os dados em memória eletrônica, dispensando o uso do diagrama em papel, permitindo exportar os dados para sistemas de forma prática, facilitando auditorias internas.
  • Tacógrafo modular: além de registrar os dados básicos, integra-se com GPS, sensores de fadiga e sistemas de telemetria. Ele não só grava o que aconteceu, como permite analisar em tempo real a conduta do motorista, emitir alertas e contribuir para políticas de prevenção.

Esse último tipo tem ganhado espaço com a transformação digital no transporte. Segundo matéria do Canal Tech, empresas que utilizam tecnologias embarcadas integradas ao tacógrafo conseguem reduzir em até 40% os custos com manutenção corretiva e acidentes, graças à identificação precoce de comportamentos de risco.

Com a digitalização dos processos logísticos, muitas empresas têm integrado os dados do tacógrafo a plataformas de gestão de frotas. Isso significa que, mais do que uma exigência legal, o equipamento se transforma em uma fonte estratégica de informações:

  • É possível cruzar os dados do tacógrafo com indicadores de performance (KPIs) da frota.
  • É possível identificar pontos de parada recorrentes e até criar políticas de remuneração variável baseadas em condução segura.
  • Em auditorias e processos trabalhistas, os dados do tacógrafo servem como prova documental da jornada dos motoristas.

Ou seja, o que antes era visto como um “mal necessário”, hoje pode ser aliado na busca por eficiência, segurança e economia operacional.

A leitura de um disco de tacógrafo analógico requer habilidade técnica para a sua correta interpretação.

🚨 E se o tacógrafo não estiver funcionando?

A legislação brasileira é clara: a ausência do tacógrafo ou o seu funcionamento irregular configura infração grave, com multa, pontos na carteira e até retenção do veículo. Mais que isso, pode ser considerada negligência em caso de acidente. Por isso, empresas e motoristas precisam estar atentos não só à instalação correta do equipamento, mas também à calibração periódica, guarda dos registros e leitura dos dados.

E aqui vale o alerta: falsificar informações do tacógrafo é crime, previsto no artigo 234 do Código Penal. Ou seja, tentar “enganar o sistema” para burlar regras de jornada pode ter consequências muito sérias, além do risco à vida.

🧠 Um ponto para reflexão

Será que estamos aproveitando todo o potencial do tacógrafo nas operações logísticas? Ou seguimos tratando o equipamento como um “registro para cumprir tabela”? O uso inteligente dos dados registrados pelos tacógrafos pode representar a diferença entre uma empresa que apenas cumpre a lei e outra que se destaca no mercado. Assim como um bom histórico de direção ajuda um motorista a conseguir melhores condições no seguro, uma empresa que cuida bem de sua jornada operacional também constrói uma reputação sólida no setor.

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