#125: Como o lashing salva a sua carga

Quando você coloca compras no porta-malas do carro e, ao frear de repente, ouve aquele barulho de garrafa rolando lá atrás, já experimentou na prática o que acontece quando a carga não está devidamente presa. Agora, imagine isso em um navio enfrentando ondas de 8 metros, em um caminhão que percorre estradas esburacadas ou em um trem cruzando regiões de alto vento. É nesse cenário que entra o lashing: o conjunto de técnicas e equipamentos usados para fixar e estabilizar mercadorias durante o transporte, evitando deslocamentos, quedas e danos.

🚢 Uma prática antiga

O lashing não é novidade. Documentos marítimos do século XIX já registravam instruções de amarração de barris, sacas e caixotes nos porões dos navios, muitas vezes usando cordas de cânhamo e cunhas de madeira. Naquela época, a fixação dependia mais da experiência da tripulação do que de padrões técnicos. Foi apenas com o avanço da conteinerização, a partir dos anos 1950, que o lashing passou a ser sistematizado, com normas claras de segurança e o uso de materiais como aço e ligas de alta resistência. Hoje, organizações como a IMO (International Maritime Organization) e normas como a CTU Code definem parâmetros específicos para fixação de cargas, tanto em contêineres quanto em veículos de transporte rodoviário e ferroviário.

Esse avanço não é apenas burocrático: ele salva vidas e milhões em mercadorias. Em 2018, por exemplo, o navio MSC Zoe perdeu cerca de 270 contêineres no Mar do Norte durante uma tempestade. Investigações apontaram que parte do problema estava na movimentação da carga devido ao lashing inadequado. O prejuízo não foi apenas financeiro, mas também ambiental, com toneladas de produtos e resíduos espalhados na costa de países como Holanda e Alemanha.

🔧 Como o lashing funciona

O lashing envolve uma combinação de técnicas e materiais que variam de acordo com o tipo de carga e modal de transporte. Entre os recursos mais usados estão:

  • Cintas de poliéster ou polipropileno: leves, resistentes e fáceis de manusear, muito comuns no transporte rodoviário.
  • Correntes e catracas: ideais para cargas muito pesadas ou com risco de movimentação brusca.
  • Cabos de aço: comuns em transporte marítimo e ferroviário.
  • Barras e travessas metálicas: usadas dentro de contêineres para criar barreiras físicas.

Para o leigo, pode parecer que basta “apertar bem” e pronto. Mas na prática, existe cálculo envolvido: força de tensão, ângulo de fixação, resistência do material e até o centro de gravidade da carga. Um mau posicionamento ou excesso de tensão pode danificar a mercadoria ou até comprometer a estrutura do contêiner.

Uma boa amarração de carga garante maior segurança durante a movimentação dos itens.

🚛 O lashing fora do navio

Embora a imagem mais comum do lashing esteja ligada a contêineres em navios, ele é essencial também no transporte rodoviário. Imagine um caminhão carregado de bobinas de aço, cada uma com mais de 10 toneladas: sem a fixação correta, uma freada brusca pode transformar essas bobinas em projéteis capazes de atravessar a cabine do motorista e atingir outros veículos.

No transporte de cargas frágeis, como vidros, o lashing ganha um papel ainda mais estratégico. Não se trata apenas de evitar que a mercadoria se mova, mas também de amortecer vibrações e impactos. Muitas vezes, são combinadas técnicas de fixação com proteções adicionais, como espuma e madeira.

A qualidade dos materiais utilizados, como cintas e catracas de fixação, é fundamental para manter a integridade e segurança da carga.

📊 O peso dos números

Estudos da TT Club, uma das maiores seguradoras do setor de transporte e logística, estimam que cerca de 65% dos danos em cargas durante o transporte marítimo estão relacionados a má estiva ou lashing inadequado. E não é só no mar: no Brasil, a Polícia Rodoviária Federal registra todos os anos ocorrências envolvendo quedas de cargas em rodovias, muitas delas por fixação incorreta.

O custo médio de um incidente pode variar de alguns milhares de reais (em casos simples) a milhões (quando envolve cargas de alto valor ou risco ambiental). Para empresas, o impacto vai além do prejuízo material: há riscos à reputação, multas e até suspensão de licenças de operação.

Se pensarmos de forma simples, o lashing é como o cinto de segurança da sua mercadoria. Assim como você se prende ao banco para evitar ser arremessado em uma freada, a carga precisa de “cintos” e “travas” para suportar as forças que atuam sobre ela durante o transporte: aceleração, frenagem, curvas, vibração, inclinação.

🌍 Tendências e futuro do lashing

O futuro dessa prática passa por automação e monitoramento em tempo real. Já existem sensores que medem a tensão das cintas e enviam alertas caso haja afrouxamento. Em operações críticas, câmeras e dispositivos IoT acompanham a integridade da carga durante todo o trajeto, permitindo intervenções antes que o problema cause danos.

Além disso, materiais mais leves e resistentes estão sendo desenvolvidos, reduzindo o tempo de fixação e aumentando a segurança. Empresas de logística que investem nessas tecnologias não só protegem suas cargas, mas também ganham vantagem competitiva ao reduzir perdas e aumentar a confiabilidade das entregas.

O lashing pode até parecer um detalhe técnico do transporte, mas, na prática, é um dos fatores que definem se uma carga chegará ao destino intacta ou não. Ele combina conhecimento técnico, atenção aos detalhes e, cada vez mais, tecnologia. Em um cenário de cadeias logísticas complexas e exigentes, ignorar o lashing é como dirigir sem freios: pode funcionar por um tempo, mas o risco é inaceitável.

Gostou do conteúdo?

Não se esqueça de curtir e compartilhar com a sua rede :)