#134: XaaS (Anything as a Service) aplicado à logística

Imagine que você pudesse alugar não apenas um galpão, mas toda a estrutura logística de uma empresa (frota, sistemas, equipe, tecnologia e até o controle de estoque), tudo pago conforme o uso. Parece coisa de filme futurista? Pois essa é a lógica por trás do XaaS (Anything as a Service), um modelo que vem ganhando cada vez mais espaço no mundo corporativo e, claro, na logística também.

💡 Do software ao caminhão: a revolução do “as a service”

O termo XaaS surgiu no universo da tecnologia, lá nos anos 2000, com o sucesso do Software as a Service (SaaS). Empresas como Salesforce e, mais tarde, Google e Microsoft, provaram que dava para acessar ferramentas completas pela nuvem sem precisar comprar servidores, licenças ou infraestrutura física. Com o tempo, essa ideia se espalhou: o “as a service” virou uma filosofia de negócio. Hoje, temos desde infraestrutura como serviço (IaaS) até plataforma como serviço (PaaS), mas o mais curioso é ver esse conceito invadindo setores tradicionalmente físicos, como a logística.

Se antes as empresas precisavam comprar frotas inteiras, construir centros de distribuição e investir pesado em sistemas próprios, agora muitas podem simplesmente contratar tudo como serviço, sob demanda.

📦 Logística como Serviço (LaaS): o novo “terceiro turno” da operação

O Logistics as a Service (LaaS) é um modelo em que a operação logística deixa de ser um ativo fixo e passa a ser um serviço contratado de acordo com a necessidade. Em vez de investir em veículos, armazéns e equipes, a empresa contrata parceiros especializados que fazem tudo, desde o recebimento de mercadorias até a entrega final. Isso é especialmente útil para negócios sazonais: imagine uma loja online que vende 10 mil pedidos em dezembro e apenas 2 mil em fevereiro; ter uma estrutura fixa seria desperdício, mas com o modelo “as a service”, ela paga mais quando precisa e menos quando o volume cai. Essa flexibilidade, que antes era comum apenas no mundo digital, agora permite que empresas físicas operem de forma muito mais leve.

🚚 Frota como Serviço (FaaS): o caminhão por assinatura

O conceito de Fleet as a Service (FaaS) é outro bom exemplo. Em vez de comprar caminhões, lidar com manutenção, documentação e depreciação, a empresa contrata uma frota compartilhada, muitas vezes gerida com tecnologia embarcada e dados em tempo real. É como o Netflix das entregas: você escolhe o plano que precisa e o serviço fica disponível pelo tempo que você pagar uma assinatura recorrente.

Empresas como Ryder, Penske e Localiza Fleet já oferecem modelos assim, permitindo que o cliente tenha caminhões prontos para operar sem desembolsar milhões na compra. E com a digitalização da gestão de frotas, o benefício vai além do custo: as plataformas coletam dados sobre rotas, consumo de combustível, comportamento do motorista e tempo de parada, tudo isso para ajudar a otimizar toda a operação.

🏭 Armazenagem como Serviço (WaaS): o galpão que se adapta ao seu estoque

Outro braço do XaaS na logística é o Warehouse as a Service (WaaS). Nesse modelo, as empresas podem alugar espaço de armazenagem conforme o volume de produtos, e não necessariamente manter um centro de distribuição próprio. Plataformas como Flexe, Flowspace e Stord, nos Estados Unidos, cresceram oferecendo justamente isso: armazenagem sob demanda. No Brasil, startups como Loggi e Mandaê também já exploram esse formato, conectando empresas a uma rede de armazéns parceiros para agilizar entregas e reduzir custos fixos.

📈 Por que o XaaS virou tendência também fora da tecnologia?

A resposta é simples: previsibilidade e flexibilidade. Nos últimos anos, vimos um aumento no custo do capital, crises logísticas globais, e oscilações na demanda que colocaram muitas empresas em xeque. Ter ativos caros e subutilizados virou um problema e o XaaS surge como antídoto.

De acordo com um relatório de 2023 da Deloitte, 56% das empresas que adotaram modelos “as a service” afirmaram ter conseguido reduzir custos fixos em até 30%, enquanto 42% disseram ter ganho mais agilidade para expandir ou reduzir operações conforme a demanda. Em outras palavras: o XaaS permite que a empresa respire junto com o mercado.

💬 Mas será que tudo pode ser “as a service”?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Na prática, nem toda empresa consegue ou deve terceirizar completamente sua logística. Existem casos em que manter controle direto sobre os ativos é estratégico, especialmente quando o nível de serviço ao cliente é um diferencial competitivo. Pense em gigantes como Amazon ou Mercado Livre: ambas começaram terceirizando parte da operação, mas ao longo do tempo internalizaram frotas, centros de distribuição e sistemas de gestão para garantir eficiência e controle. Ou seja, o XaaS é ótimo para flexibilizar e reduzir barreiras de entrada, mas o desafio está em equilibrar custo e controle.

Além disso, a transição para o modelo “as a service” exige uma mudança de mentalidade. Antes, o sucesso era medido pela quantidade de caminhões na frota; agora, o sucesso está na capacidade de entregar com qualidade, independentemente de quem é o dono do caminhão. O mesmo vale para sistemas: não importa se o ERP é interno ou contratado; o que importa é se ele funciona, integra dados e melhora decisões. Essa transformação é também uma mudança cultural: sair do “ter para controlar” para o “usar para performar”.

🔮 E o futuro?

O que vemos hoje é só o começo. A tendência é que o XaaS na logística evolua para modelos ainda mais integrados e inteligentes. Com o avanço da IA generativa, da Internet das Coisas (IoT) e do 5G, será possível montar uma operação logística quase como quem monta um quebra-cabeça digital: escolhe-se o serviço, o parceiro, o nível de automação e pronto! Nasce uma cadeia sob medida, conectada em tempo real.

Empresas poderão trocar de fornecedores com poucos cliques, integrar plataformas automaticamente e até prever gargalos antes que aconteçam. É o que alguns especialistas já chamam de “Composable Logistics”, onde tudo é plugável e escalável.

Um ponto importante pra pensar: será que você ainda precisa ser dono de tudo? Essa é a reflexão que o XaaS propõe. Se o mundo caminha para o compartilhamento de carros, escritórios, softwares e moradias, por que a logística deveria ser diferente? Talvez a verdadeira vantagem competitiva do futuro não esteja em possuir ativos, mas em usar o ecossistema certo na hora certa. E isso, convenhamos, é o tipo de serviço que todo gestor gostaria de ter.

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