O frete sempre foi tratado como uma linha simples na planilha: valor por quilômetro, por tonelada, por volume. Só isso. Contrata, coloca o caminhão na rua, entrega e pronto. Certo? Errado. Muito errado.
Toda vez que alguém reduz o frete a um número, uma operação sofre, porque o preço de transporte nunca é um preço isolado, mas um pacote de custos, riscos, decisões e consequências que começam muito antes de o caminhão ligar o motor e seguem muito depois que ele descarrega a mercadoria; e quando alguém tenta resumir esse universo complexo a um “quanto custa por km?”, surge o grande problema: olhar apenas o valor e ignorar o contexto.
🛣️ O frete sempre foi mais do que quilômetro rodado
Historicamente, o transporte nas economias modernas sempre representou fatia significativa do custo logístico, e países que lidam com grandes extensões territoriais sentiram isso cedo. No Brasil, por exemplo, com dependência rodoviária acima de 60%, qualquer variação de combustível, pedágio ou condição estrutural vira impacto imediato no bolso das empresas. Essa sensibilidade sempre existiu, só que por muito tempo ficou escondida de quem apenas “comprava frete”. Hoje, com cadeias cada vez mais digitais e clientes cada vez mais exigentes, a complexidade ficou impossível de ignorar.
Se frete fosse só distância, não existiriam tabelas de pedágio, cotação de seguros, monitoramento, escolta, cálculo de carga fracionada, taxa de devolução, diária de espera, adicional de grande centro, taxa de reentrega e tantos outros itens. Se o tema fosse simples, não teríamos discussões recorrentes sobre tabelas de frete mínimo, políticas de diesel, e debates eternos sobre o valor do transporte de cargas no país.
⛽ O que entra no frete que muita gente esquece
Separamos alguns elementos que compõem o frete e que frequentemente passam despercebidos:
Combustível
Um congestionamento prolongado pode tornar um trajeto teoricamente “barato” em uma verdadeira drenagem financeira.
Pedágios e tarifas
Trechos com várias praças podem alterar completamente a competitividade de uma rota.
Manutenção e desgaste do veículo
Pneus, suspensão, óleo, tudo degrada com cada quilômetro e isso precisa entrar na conta.
Seguro da carga e do veículo
Produtos inflamáveis, eletrônicos, itens de alto valor, cargas sensíveis, dentre outros casos, exigem cuidado especial e, portanto, devem possuir tarifas diferenciadas.
Tempo de espera e retorno vazio
Caminhão parado é prejuízo, e retorno sem carga também. Quem negocia frete sem olhar para o fluxo reverso aumenta custo sem perceber.
Operação e gestão
Monitoramento, emissão de documentos, rastreamento, controle de jornada e gerenciamento de risco.
Na mesa de negociação, quando alguém insiste apenas na pergunta “qual o valor por km?”, todo esse contexto desaparece. Depois, quando a entrega atrasa, o custo estoura, o fornecedor reclama e o cliente liga furioso, a resposta costuma ser: “mas eu paguei o frete, por que isso aconteceu?”. A resposta é: pagou o número, não pagou o contexto.
🎯 Negociar preço ou negociar operação?
A pergunta certa nunca foi “quanto custa o km?”. A pergunta é: qual operação logística eu quero construir?
Alguns questionamentos que mudam esse jogo:
O preço inclui pedágios?
O prazo é real ou otimista para ganhar contrato?
Existe rastreamento?
Quem arca com horas de espera?
O transportador tem retorno garantido ou vai repassar custo depois?
Há política clara de seguro e sinistro?
A empresa tem histórico de cumprimento de prazo?
A operação atende picos de demanda?
Essas respostas definem valor. O preço só diz o número.
🧠 Logística madura não compra frete, compra eficiência
O mercado está evoluindo. Cada vez mais empresas tratam o transporte como parte da experiência do cliente e não como despesa inevitável. Em um mundo onde entrega virou diferencial competitivo e logística final define reputação de marca, enxergar o frete como simples “custo por km” não é só ingênuo, mas perigoso.
Quer operar com qualidade? Comece pela base. Quando alguém negocia transporte apenas pelo valor do quilômetro, perde a oportunidade de construir uma cadeia mais eficiente, reduzir riscos e fortalecer o atendimento ao cliente. Depois dessa reflexão, a pergunta final fica no ar: o que a sua empresa está comprando quando diz que está comprando frete?
Com 19 anos de experiência em logística, sempre fui apaixonado por criar soluções que tornam as operações mais ágeis e eficientes. Em 2023, dei vida ao Logistiquês, uma plataforma de conteúdo feita para descomplicar a logística e aproximar mais pessoas desse universo.