#140: YMS

Quando falamos de logística, quase sempre pensamos na rua: tráfego pesado, caminhão que não chega, cliente ligando pedindo previsão de entrega, etc, mas existe um tipo de “trânsito paralelo”, escondido dentro dos próprios centros de distribuição, que pode ser tão caótico quanto o horário de pico na Marginal Tietê: o pátio.

E, se no trânsito da cidade usamos semáforos, placas, radares e apps, no pátio quem cumpre esse papel é o YMS – Yard Management System, um sistema de gerenciamento que organiza o fluxo de veículos dentro e ao redor das operações logísticas.

A grande questão é: por que um pátio, que parece um simples estacionamento de caminhões, precisa de tecnologia para funcionar? E mais importante: o que realmente muda quando o YMS entra em cena?

Onde a bagunça começa

Imagine um restaurante movimentado sem recepcionista: os clientes chegam, se espalham pelas mesas que encontram e, de repente, ninguém sabe quem chegou primeiro, quem já foi atendido ou quem ainda está esperando. O caos se forma sem que ninguém perceba.

Agora troque os clientes por caminhões, as mesas por docas e os pedidos por cargas: esse é o pátio tradicional sem YMS. Em muitas operações, o pátio é tratado como algo secundário, quase um “estacionamento de apoio”, e não como parte estratégica do fluxo logístico. O problema é que:

  • Um caminhão parado fora do lugar atrasa a doca.
  • A doca parada atrasa a separação.
  • A separação parada atrasa a entrega.
  • A entrega atrasada vira reclamação de cliente.

Um gargalo que nasce ali, no pátio, por falta de organização, acaba respingando em toda a operação (e o pior: quase ninguém enxerga isso acontecer).

O papel do YMS

O YMS controla quem chega, quem sai, onde estaciona, quanto tempo espera, qual doca deve ocupar e quando deve se mover, tudo isso com base em prioridade, necessidade operacional e capacidade do armazém. Ele responde perguntas que parecem simples, mas que, na prática, geram um mundo de dor de cabeça:

  • “Esse caminhão está aqui desde que horas?”
  • “Ele já abriu a nota?”
  • “Qual é a próxima doca livre?”
  • “Tem vaga no pátio ou vai formar fila na rua?”
  • “Quem está atrasando o turno: a carga, a descarga ou o motorista?”

O conceito de YMS começou a ganhar força no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando grandes varejistas americanos perceberam que o pátio estava virando um gargalo oculto. Reportagens da época destacavam filas de até 8 horas em centros de distribuição por falta de visibilidade do que acontecia no pátio.

Em 2003, uma pesquisa publicada na Inbound Logistics revelou que em algumas operações, até 40% do tempo total do caminhão era perdido dentro do pátio, e não na entrega. Esse dado chocou o mercado e impulsionou a adoção dos primeiros sistemas de YMS, ainda rudimentares.

Nos anos 2010, com a alta do e-commerce, os pátios começaram a receber volumes cada vez maiores, o que levava à formação de filas quilométricas no pico da Black Friday. Foi aí que o YMS deixou de ser “coisa de operação grande” e passou a se tornar uma ferramenta comum em centros de distribuição de diferentes portes. Hoje, com o avanço de IoT, sensores e portarias automatizadas, o YMS consegue trazer uma visão de tudo que está acontecendo no pátio: rastreia veículo por veículo, mede tempos, prevê gargalos e sugere ações antes do caos acontecer.

O que muda de verdade com o YMS?

Sem um YMS, atrasos na operação surgem de pequenos problemas que se acumulam ao longo do dia. A desorganização já aparece na chegada dos veículos: a portaria age de forma reativa, sem visibilidade das docas ou prioridades, gerando filas, congestionamento e estresse logo no início do turno. Com o YMS, o fluxo se torna previsível e o motorista recebe instruções antecipadas, a identificação é automática e o sistema direciona cada veículo para a vaga adequada.

A fila de docas também sofre sem o sistema. A comunicação fragmentada faz com que docas fiquem ociosas enquanto caminhões esperam sem necessidade. O YMS resolve isso criando uma fila virtual, definindo prioridades e chamando o próximo veículo no momento certo, garantindo produtividade e ritmo operacional.

Além disso, localizar caminhões manualmente consome tempo e gera erros. Com o YMS, um painel visual mostra onde cada veículo está, por que está parado e quanto tempo já espera. Essa visibilidade facilita auditorias, reduz falhas e permite decisões mais rápidas sobre atrasos e prioridades.

O impacto financeiro

Um caminhão parado custa. Um pátio travado custa mais. Uma doca ociosa custa ainda mais. E, quando juntamos tudo isso, o custo explode. Estudos mostram que:

  • Cada minuto perdido no pátio pode custar entre R$ 1,50 e R$ 4,00, dependendo do tipo de operação.
  • Empresas que implementaram YMS relatam redução média de 15% a 30% no tempo total de permanência dos veículos.
  • Em operações de alto giro, essa eficiência pode gerar economia anual de milhões de reais, sem nenhuma expansão física, mas apenas com fluidez operacional.

Então porque nem toda empresa usa um YMS? A resposta é mais cultural do que técnica. Muitas empresas ainda veem o pátio como um espaço secundário, que não justificaria investimento em tecnologia. No entanto, hoje sabemos que pequenos gargalos geram grandes atrasos, docas mal utilizadas quebram a eficiência da operação e caminhões parados sem visibilidade criam horas extras desnecessárias.

Pontos para pensar na sua operação

No fim das contas, o YMS mostra que a eficiência logística não depende apenas de grandes investimentos ou mudanças profundas, mas de enxergar melhor aquilo que sempre esteve diante de nós. O pátio, antes visto como um simples espaço de apoio, se revela uma peça-chave na fluidez do processo, e o YMS funciona como a lente que finalmente dá nitidez ao que antes era apenas intuição.

Ao organizar fluxos, reduzir esperas e aproximar informação de quem realmente precisa dela, o sistema transforma o dia a dia da operação e abre espaço para um nível de controle que parecia distante. A reflexão que fica é simples: se pequenos ajustes produzem resultados tão grandes, imagine o impacto de dar ao pátio a atenção e a tecnologia que ele realmente merece.

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