O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários do mundo, tendo como destaques a soja, o milho, o açúcar e o etanol. No entanto, para que esses produtos cheguem aos consumidores finais é preciso enfrentar diversos desafios logísticos, desde o planejamento e a distribuição dos insumos necessários para a produção até o transporte e o armazenamento dos produtos finais. Neste artigo, vamos abordar os principais pontos da logística agro no Brasil, com foco em grãos e cana-de-açúcar, e destacando as principais etapas do processo. Também vamos apresentar alguns dos principais problemas e soluções para a melhoria da eficiência e da competitividade do setor.
Cenário geral
De acordo com o IBGE, em 2021 a produção de grãos no Brasil foi estimada em 256 milhões de toneladas. A soja foi o principal grão produzido, com 134 milhões de toneladas, seguida pelo milho, com 87 milhões de toneladas, e a área plantada de grãos foi de 69 milhões de hectares, um crescimento de 4,2% em relação ao ano anterior. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de grãos, e em anos recentes a produção de soja tem sido especialmente significativa, com aumentos consistentes nas áreas plantadas.
Já a produção de cana-de-açúcar na safra 2023/24 foi estimada em 573 milhões de toneladas, uma redução de 3,5% em relação à safra anterior. A área colhida foi de 9 milhões de hectares, sendo o açúcar o principal item produzido, com 34 milhões de toneladas. A produção de etanol foi de 26 bilhões de litros, o que representa uma redução de 2,2% em relação ao ano anterior. A cana-de-açúcar é uma cultura importante para a produção de açúcar e etanol no Brasil, que se tornou um líder global na produção desses produtos.
Grãos
Os principais grãos produzidos no Brasil são a soja e o milho, que representam cerca de 90% da produção nacional, seguidos por outros grãos importantes, como o arroz, o trigo e o feijão. O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo, e o segundo maior de milho.
O processo de produção de grãos no Brasil pode ser dividido em quatro etapas principais: preparação do solo, plantio, manejo e colheita.
O preparo do solo consiste na realização de análises físicas e químicas do solo, na correção da acidez e da fertilidade, na descompactação e na formação de sulcos para o plantio; o plantio é a escolha das sementes adequadas para cada região e época, na aplicação de defensivos agrícolas para o controle de pragas e doenças, na semeadura mecanizada ou manual e na irrigação, se necessário; o manejo envolve o monitoramento das condições climáticas, do desenvolvimento das plantas, da incidência de pragas e doenças, da necessidade de adubação e de irrigação, e na realização de tratos culturais, como capinas, desbastes e podas; por último, a etapa de colheita é a que determina o ponto ideal de maturação dos grãos, incluindo a utilização de máquinas colheitadeiras ou métodos manuais (no caso de pequenos produtores), a separação dos grãos das impurezas e a secagem e armazenagem dos grãos.
Cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar é a principal matéria-prima para a produção de açúcar e etanol no Brasil, que é o maior produtor e exportador desses produtos no mundo. A cana-de-açúcar também é utilizada para a produção de energia elétrica, a partir da queima do bagaço.
Algumas etapas do processo de produção de cana-de-açúcar são similares às etapas da produção de grãos, como a preparação do solo, o plantio, o manejo e a colheita, diferenciando-se apenas nas suas particularidades operacionais, como a necessidade de capinas, desbastes e podas. Porém, temos uma etapa a mais nesta cadeia, que é a transformação da cana em açúcar e/ou etanol nas usinas, por meio de processos como lavagem, moagem, centrifugação, fermentação, destilação e armazenagem. Esses processos envolvem vários tratamentos físicos e químicos, que podem variar de acordo com o produto final desejado.
Desafios e soluções para a logística agro no Brasil
A logística agro no Brasil enfrenta diversos desafios que comprometem a eficiência e a competitividade do setor. Entre os principais problemas, podemos citar:
- Dependência do modal rodoviário: a utilização predominante do transporte rodoviário para escoar a produção agropecuária gera custos elevados, riscos de acidentes, atrasos, perdas e danos aos produtos. Além disso, o país possui uma malha rodoviária insuficiente, precária e mal distribuída, que não atende às demandas do setor.
- Falta de infraestrutura para armazenamento: um déficit na capacidade de armazenamento de grãos e cana-de-açúcar obriga os produtores a venderem seus produtos logo após a colheita, quando os preços estão mais baixos. Além disso, o país possui poucos armazéns modernos, automatizados e integrados, que garantam a qualidade e a segurança dos produtos.
- Altos custos na estrutura produtiva: os altos custos na aquisição de insumos, máquinas, equipamentos, combustíveis e mão de obra para a produção agrícola são repassados para o preço final dos produtos, reduzindo a margem de lucro e a competitividade dos produtores.
- Longas distâncias para escoar os produtos: o Brasil possui um território extenso e diversificado, o que implica em longas distâncias entre as áreas de produção e os centros de consumo e exportação. Isso aumenta o tempo e o custo do transporte, além de exigir uma maior conservação dos produtos perecíveis.
- Desperdício da produção na logística: estima-se que, anualmente, o Brasil perde cerca de 10% da sua produção agropecuária por problemas na logística, como a falta de embalagens adequadas, manuseio inadequado, transporte precário e falta de sistemas de refrigeração na armazenagem. Isso representa um prejuízo econômico e ambiental, além da perda de oportunidades de mercado.
Para superar esses desafios, o setor agropecuário brasileiro precisa investir em soluções que melhorem a eficiência e a sustentabilidade da logística agro no Brasil. Soluções como a diversificação dos modais de transporte (integrando a produção com os modais ferroviário, hidroviário e dutoviário, que são mais econômicos e seguros do que o rodoviário), a ampliação e modernização da capacidade de armazenamento para permitir aos produtores estocarem seus produtos e venderem no momento mais oportuno, aproveitando as variações de preço do mercado, a redução dos custos na estrutura produtiva (insumos, máquinas, equipamentos, combustíveis e mão de obra) e a redução de desperdícios na produção por problemas logísticos podem contribuir para melhorar a logística no segmento agro, tornando o setor mais eficiente e competitivo.
No entanto, essas soluções dependem de uma maior articulação entre os principais envolvidos na cadeia produtiva, como produtores, cooperativas, transportadoras, portos, importadores, entre outros. Além disso, dependem de uma maior participação do poder público, por meio de políticas públicas, incentivos fiscais, financiamentos, investimentos em infraestrutura e regulação do setor.
A logística agro no Brasil é um setor estratégico para o desenvolvimento econômico e social do país, pois envolve o transporte, o armazenamento e a exportação de produtos agrícolas que representam uma parcela significativa do PIB e do comércio exterior brasileiros. Caracterizada por uma cadeia complexa e extensa, é influenciada por diversos fatores geográficos, infraestrutura e demanda internacional, e enfrenta desafios que exigem investimentos contínuos para garantir a eficiência e competitividade desse importante setor da economia brasileira.