#70: Como a sua mala sabe (quase sempre) em qual avião você está?

A logística de malas em um aeroporto é um processo crucial e altamente complexo, que envolve diversas etapas e a aplicação de avançados sistemas de tecnologia para garantir a organização e eficiência da operação. Vamos detalhar neste artigo o funcionamento dessa cadeia, desde o check-in até a entrega das bagagens no destino final, e apresentar as principais tecnologias que garantem – na maioria das vezes – que a sua mala chegue com você ao destino.

Check-in e registro das bagagens

O processo de logística de malas começa no balcão de check-in, onde os passageiros despacham suas bagagens. Nesse momento, cada mala recebe uma etiqueta de identificação que contém informações como o número do voo, o destino final e um código de barras único. Esse código é fundamental para o rastreamento da bagagem ao longo de todo o percurso. Além dos códigos de barras, alguns aeroportos utilizam etiquetas RFID (Radio-Frequency Identification), que permitem uma leitura mais rápida e precisa das informações das bagagens. Adicionalmente, algumas companhias aéreas oferecem quiosques de autoatendimento onde os passageiros podem imprimir suas próprias etiquetas de bagagem, agilizando o processo de check-in.

Triagem e segurança

Após o check-in, as malas são encaminhadas para a área de triagem, onde passam por uma série de verificações de segurança. Máquinas de raios-X e outros equipamentos de detecção, como equipamentos de tomografia computadorizada, similar à usada em hospitais, são usados para inspecionar o conteúdo das bagagens e garantir que não há itens proibidos ou perigosos. O processo de triagem de segurança pode ocorrer em múltiplas camadas, onde malas suspeitas passam por inspeções adicionais mais detalhadas, incluindo o uso de cães policiais treinados.

Cães policiais são treinados para identificar itens ilícitos nas bagagens

Sistema de transporte automatizado

Uma vez aprovadas na triagem de segurança, as malas são inseridas em um sistema de transporte automatizado, conhecido como Sistema de Manipulação de Bagagem (BHS – Baggage Handling System). Este sistema utiliza esteiras rolantes, transportadores e elevadores para mover as malas para diferentes áreas do aeroporto. Sensores e scanners ao longo do trajeto leem as etiquetas de identificação para direcionar as malas para os destinos corretos, incluindo o uso de algoritmos de roteamento dinâmico que ajustam o caminho das malas em tempo real para evitar congestionamentos e otimizar a eficiência. Para garantir o correto funcionamento do sistema, um centro de controle monitora constantemente o seu funcionamento e pode intervir rapidamente em caso de falhas ou desvios.

Conexões e transferências

Nos casos de voos com conexão, as malas devem ser transferidas de um voo para outro. Aqui, a precisão e a velocidade do sistema BHS são cruciais. As malas destinadas a conexões são identificadas e separadas, e a eficiência do processo de transferência é especialmente crítica em aeroportos com janelas de conexão curtas, exigindo precisão no timing. Aeroportos com grande volume de conexões contam com áreas de triagem dedicadas a bagagens em conexão para permitir um processamento mais ágil e organizado.

Os sistemas de manipulação de bagagem funcionam na parte interna do aeroporto e garantem a logística correta das malas entre o check-in e o avião, e no destino final, entre o avião e a área de retirada das bagagens – Fonte: Beumer Group – Divulgação

Carregamento no avião

Depois de triadas e encaminhadas corretamente, as malas são levadas até a área de embarque de bagagens. Neste ponto, funcionários do aeroporto carregam as malas nas esteiras que as conduzem ao porão de carga da aeronave. Cada aeronave tem uma configuração específica para o armazenamento de bagagens e sistemas de planejamento de carga calculam a distribuição ideal do peso no porão da aeronave para garantir a estabilidade durante o voo. Equipamentos especializados, como carregadores de bagagens e veículos de transporte (aqueles carrinhos que vemos “passeando” no meio das aeronaves), são utilizados para movimentar as malas entre os pontos.

Desembarque e reivindicação da bagagem

Ao chegar ao destino final, o processo se inverte. As malas são descarregadas do avião e inseridas novamente no sistema BHS do aeroporto de chegada para que sejam conduzidas até a área de reivindicação de bagagens, onde os passageiros podem recolhê-las (aquela sala onde ficamos esperando uma eternidade para pegar as nossas malas de volta). Telas de informação indicam a esteira correspondente a cada voo para facilitar a localização das malas pelos passageiros.

A última etapa de viagem das malas é a esteira de reivindicação de bagagens, que pode ser a etapa mais cansativa da viagem para os passageiros, especialmente em épocas de maior movimento

Exemplo prático: Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (GRU)

O Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (GRU) é um exemplo notável de um aeroporto com um sistema de logística de bagagens avançado. Com uma área total de 13,8 milhões de m² e três terminais de passageiros, opera como o maior e mais movimentado aeroporto do Brasil, com cerca de 750 voos diários, abrangendo tanto voos domésticos quanto internacionais. Em 2022, movimentou cerca de 32,8 milhões de passageiros, consolidando sua posição como o principal ponto de entrada e saída do país.

O Sistema de Manipulação de Bagagem (BHS) do GRU é um dos mais avançados do mundo, projetado para lidar com o alto volume de bagagens de forma rápida e eficiente. O sistema é capaz de processar até 5 mil bagagens por hora, com capacidade para expansão conforme a demanda. O BHS é completamente automatizado, utilizando esteiras rolantes, transportadores e elevadores para mover as malas através do aeroporto, e sensores e scanners ao longo do trajeto leem as etiquetas de identificação das bagagens para garantir que sejam direcionadas corretamente. Para garantir a continuidade da operação, o sistema possui redundâncias e mecanismos de backup que permitem a manutenção da eficiência mesmo em caso de falhas técnicas.

O aeroporto utiliza tecnologias de ponta para garantir que as malas sejam monitoradas em tempo real e passem por rigorosas verificações de segurança. Além dos códigos de barras tradicionais, o GRU implementou o uso de etiquetas RFID, que permitem uma leitura mais rápida e precisa das informações das bagagens, facilitando o rastreamento e reduzindo o risco de extravios. As malas passam por máquinas de raios-X e tecnologia de tomografia computadorizada para detectar itens proibidos ou perigosos, além de utilizar cães farejadores e verificações manuais adicionais quando necessário (quem aqui nunca se imaginou aparecendo naquela série do Discovery? :D). Todo o processo de manipulação de bagagens é monitorado por câmeras de segurança, permitindo uma resposta rápida em caso de qualquer incidente.

O GRU, sendo um hub internacional, lida com um grande volume de bagagens em conexão. Por isso, o processo de transferência de bagagens entre voos é otimizado para minimizar o tempo de espera e garantir que as malas cheguem ao seu destino final sem atrasos. Essa otimização é feita através de áreas específicas para a triagem de bagagens em conexão, em paralelo a uma coordenação de comunicação estreita entre o aeroporto e as companhias aéreas para garantir que as informações sobre voos e conexões sejam atualizadas em tempo real, permitindo uma melhor gestão das transferências de bagagens.

O processo de carregamento e descarregamento de bagagens no GRU é altamente organizado e eficiente, com foco na segurança e rapidez. Com a utilização de uma ampla gama de equipamentos de suporte em solo, como carregadores de bagagens, veículos de transporte e elevadores, a movimentação das malas entre o terminal e a aeronave é facilitado. Além disso, os funcionários responsáveis pelo carregamento e descarregamento de bagagens recebem treinamento rigoroso para garantir que as malas sejam manuseadas com cuidado e eficiência – mesmo que vez ou outra alguém acabe jogando a nossa mala no chão como se fosse um objeto qualquer.

O GRU é um pioneiro na implementação de tecnologias inovadoras que aprimoram a logística de bagagens, disponibilizando um aplicativo móvel que permite aos passageiros rastrear suas bagagens em tempo real, verificar informações de voos e receber notificações sobre o status de suas malas. O aplicativo, chamado GRU Airport, está disponível gratuitamente na App Store (iOS) ou Google Play Store (Android); nele, o passageiro insere os dados da viagem, como número do voo, companhia aérea e horário de partida/chegada, e o aplicativo utiliza essas informações para buscar os dados das etiquetas das bagagens, atualizando em tempo real o status de movimentação. O rastreamento inclui etapas como “Check-in”, “Em triagem de segurança”, “Em transferência”, “Carregado na aeronave”, “Descarregado” e “Disponível na esteira de bagagens”.

Adicionalmente, o aplicativo envia notificações “push” para o passageiro para informar sobre mudanças no status da bagagem. Além do rastreamento de bagagens, o aplicativo oferece outras funcionalidades, como informações sobre voos, mapas do aeroporto, localização de lojas e restaurantes, estacionamento, e atualizações sobre o status dos voos em tempo real.

O Aeroporto de Guarulhos é o maior da América do Sul e o segundo mais movimentado da América Latina – Fonte: Thayana Alvarenga – Melhores Destinos

A logística de malas dentro de um aeroporto é uma operação multifacetada que requer uma coordenação precisa entre tecnologia avançada e trabalho humano. Desde o momento do check-in até a entrega no destino final, cada etapa do processo é crucial para garantir que as bagagens cheguem de maneira segura e eficiente. Aeroportos como o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (GRU) exemplificam como a implementação de tecnologias de ponta pode aprimorar significativamente essa logística, beneficiando tanto a operação aeroportuária quanto a experiência do passageiro.

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