#75: Eletrificação dos veículos de transporte

A eletrificação de veículos de transporte tem sido uma das principais estratégias adotadas por empresas de transporte para mitigar os impactos ambientais do setor logístico, que é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos do mundo. Neste artigo, apresentamos uma análise detalhada das vantagens e desvantagens dessa transição, com base em dados estatísticos e informações relevantes.

A eletrificação de veículos é vista como uma solução promissora para reduzir as emissões de gases de efeito estufa que contribuem para as mudanças climáticas. Em 2019, o setor de transporte representou cerca de 24% das emissões globais de CO2 relacionadas à energia, com uma grande parte dessas emissões ocorrendo em centros urbanos devido à alta densidade populacional e ao uso intensivo de veículos. Ao substituir veículos a combustão por veículos elétricos, as empresas podem diminuir substancialmente suas emissões de CO2, especialmente se a eletricidade utilizada for proveniente de fontes renováveis, como energia solar ou eólica.

A longo prazo, essa transição pode ajudar a cumprir metas climáticas globais, como as estabelecidas no Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais. Como sabemos, a poluição do ar é uma preocupação crítica em centros urbanos, onde o tráfego intenso contribui significativamente para a presença de poluentes como óxidos de nitrogênio (NOx) e partículas finas. Esses poluentes estão associados a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças respiratórias, cardiovasculares e até aumento na mortalidade prematura. A eletrificação dos veículos de transporte pode reduzir esses poluentes em até 57%, proporcionando um ambiente urbano mais saudável. Em cidades como Londres, onde zonas de emissão ultrabaixa foram implementadas, a introdução de veículos elétricos tem mostrado resultados positivos na melhoria da qualidade do ar, reduzindo o número de admissões hospitalares relacionadas à poluição e, consequentemente, aliviando os sistemas de saúde pública.

Além disso, os veículos elétricos operam de maneira significativamente mais silenciosa em comparação com seus equivalentes movidos a combustíveis fósseis, contribuindo para a redução da poluição sonora em áreas urbanas. Essa vantagem é especialmente importante em centros densamente povoados, onde o ruído constante dos motores de combustão interna pode impactar negativamente a saúde mental e o bem-estar da população. Outro ponto positivo é que os veículos elétricos são inerentemente mais eficientes do que os veículos a combustão interna, pois enquanto um motor a combustão tradicional converte apenas cerca de 20% da energia do combustível em movimento, os veículos elétricos podem converter cerca de 60% da energia elétrica em movimento; essa maior eficiência significa que eles utilizam menos energia para percorrer a mesma distância, reduzindo o consumo geral de energia e, consequentemente, os custos operacionais para as empresas.

A transição para veículos elétricos está impulsionando a inovação em diversas áreas, desde o desenvolvimento de novas tecnologias de baterias até a criação de softwares avançados para gestão de energia e condução autônoma. Esse impulso tecnológico está gerando novas oportunidades de emprego e contribuindo para o desenvolvimento econômico, particularmente em setores de alta tecnologia. A eletrificação também estimula o crescimento de setores relacionados, como o da energia renovável, criando uma sinergia positiva entre transporte e geração de energia limpa. Por isso, muitos governos ao redor do mundo estão adotando políticas para incentivar a compra de veículos elétricos, oferecendo subsídios diretos, isenções fiscais, e outras formas de apoio financeiro. Esses incentivos têm sido fundamentais para tornar os veículos elétricos mais acessíveis ao público em geral, reduzindo a barreira do custo inicial mais alto associado a esses veículos. Além dos subsídios, algumas cidades estão introduzindo benefícios adicionais, como acesso a faixas exclusivas de trânsito, estacionamento gratuito ou com desconto, e isenção de pedágios urbanos para veículos elétricos.

A Ambev utiliza caminhões elétricos para realizar as suas entregas em centros urbanos (Foto: FNM-Agrale | Divulgação)

No entanto, existe o outro lado da moeda. A eletrificação em larga escala dos transportes inevitavelmente aumenta a demanda por eletricidade, pressionando as redes elétricas existentes. Isso pode ser particularmente problemático em regiões onde a infraestrutura energética já é frágil ou onde a geração de eletricidade ainda depende fortemente de combustíveis fósseis. Em períodos de pico, a maior demanda pode levar a sobrecargas na rede, resultando em apagões ou na necessidade de racionamento de energia. Outro fator importante é que se a eletricidade for gerada a partir de fontes não renováveis, como carvão ou gás natural, os benefícios ambientais dos veículos elétricos podem ser significativamente reduzidos, uma vez que as emissões são simplesmente transferidas do tubo de escape para as usinas de geração, pois embora os veículos elétricos não emitam poluentes diretamente, as emissões associadas à produção de eletricidade e à fabricação dos veículos não podem ser ignoradas. Estudos mostram que, em algumas regiões, a “pegada de carbono” de um veículo elétrico pode ser comparável ou até superior à de um veículo a combustão, dependendo de como a eletricidade é gerada.

Além disso, a produção de baterias para veículos elétricos envolve a extração e o processamento de metais como lítio, cobalto e níquel, que têm impactos ambientais e sociais significativos. A mineração desses metais pode causar danos ecológicos, como desmatamento e poluição da água, e o descarte inadequado das baterias no final de sua vida útil pode resultar em contaminação do solo e da água devido à toxicidade dos materiais utilizados. Um caminho para minimizar este impacto é a reciclagem de baterias, mas atualmente esse processo enfrenta desafios tecnológicos e econômicos que limitam sua eficácia e aplicação em larga escala.

Apesar dos custos de aquisição dos veículos estarem em queda, graças aos avanços tecnológicos e ao aumento da produção em massa, eles ainda são geralmente mais caros que os veículos a combustão interna, principalmente devido ao custo das baterias, que podem representar até 40% do custo total do veículo. No entanto, espera-se que os preços das baterias continuem a cair nos próximos anos, o que deve tornar os veículos elétricos mais acessíveis aos compradores.

Por último, vale mencionar que a autonomia dos veículos elétricos, embora tenha melhorado significativamente nos últimos anos, ainda é menor do que a dos veículos a combustão interna, o que pode ser um fator limitante para as empresas que precisam percorrer longas distâncias. Outro fator é que o tempo de carregamento das baterias, que pode levar várias horas, dependendo do tamanho do veículo e da potência do carregador. Esse tempo é significativamente mais longo do que o necessário para abastecer um veículo a gasolina ou diesel, o que pode ser inconveniente para operações dinâmicas.

Fábrica de baterias da Volkswagen terá sede em Salzgitter, Alemanha, e será a primeira da marca alemã na Europa (Foto: Volkswagen | Divulgação)

A eletrificação dos transportes nos centros urbanos representa um avanço importante para a sustentabilidade e a redução de impactos ambientais, mas também traz desafios significativos que precisam ser abordados. As vantagens, como a redução de emissões de gases do efeito estufa, a melhoria da qualidade do ar, e a inovação tecnológica, devem ser equilibradas com as desvantagens, como a maior dependência da rede elétrica, as emissões indiretas e os desafios associados à infraestrutura e ao custo.

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