#76: Segurança na aviação comercial

A ocorrência de acidentes aéreos pode ter impactos significativos na percepção de segurança dos passageiros e na confiabilidade das companhias aéreas. Neste artigo, vamos detalhar como esses eventos afetam a indústria e quais medidas podem ser adotadas para mitigar os impactos negativos, além de explicar como funciona a segurança aérea no Brasil e responder à pergunta que muitos se fazem: voar é seguro?

Impactos dos acidentes aéreos na confiança dos passageiros

Acidentes aéreos, especialmente aqueles com vítimas fatais, frequentemente resultam em uma diminuição imediata da confiança dos passageiros na segurança das companhias aéreas envolvidas. Segundo a International Air Transport Association (IATA), a percepção de segurança é um fator crítico na escolha da companhia aérea, e tais incidentes podem impactar significativamente a imagem de uma companhia, mesmo que a segurança geral da indústria continue a melhorar.

Além disso, um acidente aéreo também pode afetar a percepção de segurança em toda a indústria e abalar a confiança dos passageiros de forma geral, e não apenas em relação à companhia aérea envolvida no incidente. Essa informação é reforçada pelos dados fornecidos pela Federal Aviation Administration (FAA), que indicam que a demanda por viagens aéreas pode diminuir temporariamente em até 20% após um grande acidente, levando a impactos financeiros diretos, como menor receita e a necessidade de uma reestruturação operacional.

Mitigação dos impactos negativos

Para mitigar os impactos negativos causados pelos acidentes aéreos, as companhias aéreas e as autoridades podem adotar diversas estratégias, e uma das principais é manter uma comunicação clara e transparente com o público. A companhia aérea envolvida deve fornecer informações detalhadas sobre o andamento da investigação do acidente e quais medidas de segurança serão adotadas. A European Union Aviation Safety Agency (EASA) recomenda que as companhias aéreas mantenham um canal aberto com os passageiros e a mídia para reduzir especulações e desinformação, incluindo o reforço às práticas de manutenção e os padrões de segurança adotados, que devem seguir normas rigorosas de manutenção e treinamento de pessoal para garantir a segurança das operações.

Outra medida é a implementação de planos de ação imediatos, como auditorias de segurança independentes e campanhas de relações públicas. A IATA sugere que as companhias aéreas desenvolvam e testem planos de resposta a crises para minimizar os impactos de eventos adversos, e esse plano de ação pode conter, inclusive, a atualização de políticas e procedimentos internos que abrangem mudanças nas práticas de manutenção, revisões de treinamento de equipe e melhorias em tecnologias de segurança.

Um acidente aéreo pode afetar a percepção de segurança em toda a indústria e abalar a confiança dos passageiros

CENIPA

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) é o órgão responsável pela investigação de acidentes e incidentes aeronáuticos no Brasil. Criado em 1980, o CENIPA opera sob a alçada do Comando da Aeronáutica (COMAER) e sua missão é identificar as causas dos eventos para promover a segurança operacional da aviação civil e militar. O foco do CENIPA não é atribuir culpa, mas entender as causas dos acidentes e incidentes para melhorar os procedimentos e prevenir futuros eventos.

O CENIPA é dividido em várias coordenações e divisões especializadas, cada uma responsável por aspectos específicos da investigação e prevenção de acidentes. As principais divisões incluem:

  • Divisão de Investigação de Acidentes Aeronáuticos (DIAA): departamento que foca na investigação de acidentes e incidentes, reunindo evidências, realizando análises e elaborando relatórios.
  • Divisão de Prevenção de Acidentes (DPA): trabalha na implementação de recomendações e medidas preventivas para evitar futuros acidentes.
  • Divisão de Comunicação e Treinamento (DCT): responsável pela disseminação de informações e realização de treinamentos relacionados à segurança aérea.
  • Equipes de investigação: O CENIPA conta com equipes de investigadores especializados em diversas áreas, como engenharia, psicologia, meteorologia e outras disciplinas relevantes para a investigação de acidentes.

Quando um acidente aeronáutico ocorre, inicia-se um processo investigativo meticuloso que segue uma série de etapas para compreender o que causou o evento e como prevenir ocorrências semelhantes no futuro. A primeira etapa desse processo é a coleta de dados, onde a equipe de investigação se dirige ao local do acidente para reunir informações cruciais. Esse processo envolve a análise de caixas pretas, que são gravadores de dados do voo e de voz da cabine de comando, além de entrevistas com testemunhas e a revisão de registros operacionais da aeronave para obter um panorama completo das circunstâncias do acidente.

Após a coleta dos dados, a próxima etapa é a análise e elaboração de relatórios. Nesse estágio, os investigadores examinam minuciosamente as informações reunidas para identificar as causas principais e os fatores contribuintes para o acidente. Essa análise permitirá entender os mecanismos que levaram ao evento e estabelecer se houve falhas técnicas, erros humanos ou outros problemas. Com base nessa análise, é elaborado um relatório detalhado que não apenas descreve os acontecimentos, mas também inclui recomendações para melhorar a segurança da aviação.

Por fim, a publicação de relatórios é a etapa onde os resultados da investigação são divulgados ao público e às autoridades pertinentes. Os relatórios finais são disponibilizados para garantir transparência e para que as informações possam ser amplamente acessadas. O objetivo dessa publicação é disseminar as lições aprendidas com o acidente, promover melhorias na segurança aérea e assegurar que as recomendações – técnicas, processuais, industriais e/ou operacionais- sejam implementadas integralmente.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) é o órgão responsável pela investigação de acidentes e incidentes aeronáuticos no Brasil (Foto: CENIPA/Divulgação)

Voar é seguro?

Voar é amplamente reconhecido como uma das formas mais seguras de viajar, e isso se deve a uma série de fatores que garantem a segurança na aviação. Em 2023, a IATA relatou que houve aproximadamente 42 milhões de voos comerciais globais, que transportaram cerca de 4,5 bilhões de passageiros; só no Brasil, foram cerca de 900 mil voos, contemplando voos nacionais e internacionais com origem ou destino no Brasil, transportando cerca de 100 milhões de passageiros.

Organizações como a FAA e a EASA, além da International Civil Aviation Organization (ICAO), estabelecem e monitoram normas que abrangem todos os aspectos das operações aéreas, desde a certificação de aeronaves até o treinamento de pilotos, o que garante que os equipamentos e procedimentos atendam a altos padrões de segurança antes que possam ser utilizados em operações comerciais.

Além das regulamentações, os aviões atuais estão equipados com sistemas avançados de navegação e comunicação que ajudam a prevenir acidentes e a gerenciar emergências, e em solo, as equipes de controle de tráfego aéreo utilizam radares e sistemas de rastreamento para monitorar e gerenciar o tráfego aéreo com total segurança.

Os aviões passam por manutenção rigorosa e inspeções periódicas para garantir que estejam em condições adequadas para voar, e essas inspeções são realizadas de acordo com planos estabelecidos pelos fabricantes e regulamentadores. Antes de cada voo, a equipe de manutenção realiza verificações detalhadas, tudo isso para garantir que quaisquer problemas sejam identificados e corrigidos antes que possam afetar a segurança do voo. Os pilotos passam, ainda, por treinamento extensivo e contínuo para lidar com uma ampla gama de situações, incluindo emergências. Os treinamentos são realizados em simuladores que replicam condições de voo e emergências dos mais variados tipos, permitindo-lhes praticar as respostas a esses eventos.

Além disso, a resposta rápida a incidentes e a melhoria contínua são aspectos inerentes da segurança aérea. Quando ocorre um acidente, ele é investigado minuciosamente por autoridades independentes para determinar suas causas e implementar melhorias, sempre buscando que as lições aprendidas sejam aplicadas para evitar que situações semelhantes voltem a acontecer.

Voar é uma das formas mais seguras de viajar (Foto: Flávio Marcos de Souza/Flap Internacional)

Os acidentes aéreos têm impactos significativos na confiança dos passageiros e na reputação das companhias aéreas. No entanto, a implementação de estratégias eficazes, como comunicação transparente, investimento em segurança e desenvolvimento de planos de recuperação, podem ajudar a mitigar esses impactos e restaurar a confiança. Adicionalmente, a utilização de dados e referências de organizações como a IATA, FAA, EASA, ICAO e CENIPA é fundamental para entender melhor esses impactos e adotar práticas eficazes para a recuperação e melhoria contínua da segurança aérea, além de gerar informações transparentes e acessíveis para toda a população.

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