#94: Roteirização por cabeça de CEP

Você é responsável por uma empresa de entregas e tem dezenas de pedidos para distribuir pela cidade. Como garantir que cada pacote chegue no menor tempo possível e com o menor custo? Bem-vindo ao mundo da roteirização, onde estratégias inteligentes ajudam a transformar o caos em eficiência. Hoje, vamos falar sobre uma abordagem específica – e até certo ponto, polêmica: a roteirização por cabeça de CEP.

Conceito

Primeiro, um passo atrás: o que é uma “cabeça de CEP”? Nos endereços postais, o CEP é dividido em partes. A “cabeça de CEP” representa os primeiros dígitos, que identificam regiões maiores, como bairros, cidades ou zonas específicas de uma área urbana. Por exemplo, se analisarmos o CEP 01250-030, teremos:

  • Primeiro dígito (0): indica a região postal. No Brasil, os números de 0 a 9 dividem o país em grandes regiões. O número 0 corresponde à região de São Paulo.
  • Segundo e terceiro dígitos (12): junto com o primeiro, formam a sub-região ou setor dentro do estado. No caso de 012, refere-se a uma área específica dentro da cidade de São Paulo, como a região central da cidade.
  • Quarto e quinto dígitos (50): representam o distrito ou a localidade dentro do setor maior. Aqui, 50 delimita uma área ainda mais precisa, neste caso, o bairro do Pacaembu.
  • Sexto ao oitavo dígitos (030): identificam uma rua, avenida ou um grupo pequeno de endereços dentro da localidade. O 030 é usado para localizar especificamente um trecho ou uma única rua – no nosso exemplo, refere-se à Rua Itapitangui.

A cabeça de CEP para esta região poderia ser, por exemplo, 012, e representaria todos os atendimentos a serem feitos ali. Seguindo a mesma lógica, em outras regiões teríamos as cabeças de CEP 046, 052, 074, etc. Ao agrupar os atendimentos com base nessas cabeças, criamos áreas lógicas para planejamento. Pense nisso como organizar sua despensa: colocar enlatados em uma prateleira e biscoitos (ou bolachas, dependendo de onde você é) em outra. Facilita tudo, não?

Mas calma lá que nem tudo é tão bonito quanto parece: este modelo não leva em conta aspectos como a densidade populacional ou o volume de pedidos dentro de cada cabeça de CEP, o que pode resultar em rotas desbalanceadas ou ineficientes. Motoristas podem acabar com cargas desiguais, e trajetos dentro de uma mesma região podem não ser os mais otimizados. Isso é especialmente problemático em cenários urbanos complexos, onde a malha viária e o tráfego variam significativamente.

Ok, mas e se eu não tenho tantas restrições?

Vamos imaginar o seguinte: você tem 300 pacotes para entregar pela cidade de São Paulo. Ao fazer a roteirização por cabeça de CEP, você separa os pedidos em grupos baseados nos primeiros dígitos dos CEPs:

  • Pacotes com CEPs começando em 010… (centro de São Paulo) são agrupados e atribuídos ao motorista 1;
  • Pacotes com CEPs começando em 020… (zona norte) ficam com o motorista 2, e assim por diante.

Assim, cada motorista cobre uma região específica, evitando deslocamentos longos e desnecessários entre áreas distantes – em teoria, porque é aqui que o problema começa: em regiões muito povoadas, uma mesma cabeça de CEP pode conter dezenas ou centenas de entregas. Isso sobrecarrega os motoristas alocados a essa área, e o resultado geral é uma frota mal distribuída e tempos de entrega desiguais. Em contrapartida, áreas com poucos endereços dentro de uma cabeça de CEP podem gerar trajetos longos e ineficazes para um volume pequeno de entregas, desperdiçando combustível e tempo, sem contar que se um cliente exige uma entrega urgente ou em horário específico, ele pode não ter a sua demanda atendida, pois este método trata todas as entregas de uma mesma cabeça de CEP como iguais, sem priorizar demandas individuais.

Além disso, a confiabilidade das informações cadastrais, especialmente o CEP, é um ponto extremamente crítico e que precisa funcionar muito bem para que o modelo de roteirização por cabeça de CEP seja minimamente eficaz. Se um CEP estiver incorreto, o pacote pode ser alocado para a região errada, resultando em atrasos e reprocessamento. Por exemplo: se um pedido destinado ao centro de São Paulo (CEP 01000-000) foi registrado com um CEP da zona norte (02000-000), o pacote inicialmente seguirá para o motorista responsável pela zona norte (cabeça de CEP 020, em vez da cabeça de CEP do centro, que é a 010), criando um ciclo de redirecionamento desnecessário que consome tempo, recursos e aumenta as chances de insatisfação do cliente.

Vale a pena roteirizar por cabeça de CEP?

Como você deve ter notado, ao longo dos nossos exemplos não explicamos como balancear as rotas criadas com cabeças de CEP de forma estratégica ou como alocar o melhor veículo em cada situação, mas apenas falamos sobre separar os pedidos de acordo com a respectiva cabeça de CEP. Isso tem um motivo: não ter total visibilidade das informações para refinar o resultado da roteirização é um dos principais gargalos deste modelo, pois como a construção da roteirização é feita com base em uma única variável (a cabeça de CEP), sem distinguir pedidos, clientes, particularidades de atendimento e outras restrições, balancear e otimizar estes veículos se torna algo complexo, pois os demais dados que precisamos para construir essa análise não existem ou não estão disponíveis de forma clara, o que limita o uso deste modelo – mantendo um certo nível de qualidade – a operações de pequeno porte e que ainda não possuem uma grande complexidade logística.

Contudo, à medida que uma operação cresce, as limitações começam a se tornar mais evidentes. Para resolver essas complexidades, o uso de softwares de roteirização permite identificar uma gama muito maior de oportunidades que o modelo baseado apenas na cabeça de CEP não consegue atender. Esses sistemas analisam não apenas a localização dos clientes, mas também as distâncias a serem percorridas, as prioridades de entrega, as restrições específicas para veículos e clientes, o balanceamento da carga de trabalho dos motoristas com base na jornada laboral, o percentual de ocupação da carga, a quantidade de entregas e muitos outros fatores. O resultado é um planejamento inteligente, que não só reduz os custos operacionais, mas também melhora significativamente a experiência do cliente.

Há alguns anos, tirei essa foto durante uma consultoria: cada círculo no mapa representava uma cabeça de CEP e os post-its eram os nomes dos motoristas que atendiam cada região. Consegue imaginar esse tipo de controle em uma operação de grande porte?

O modelo funciona? Sim, mas com grandes ressalvas. A roteirização por cabeça de CEP é como um quebra-cabeça: você precisa das peças certas (os pacotes) nos lugares certos (as regiões) e na quantidade certa (os clientes) para montar a imagem completa (uma operação eficaz). No entanto, é importante reconhecer suas limitações frente a modelos mais avançados e que oferecem maior flexibilidade e redução de custos.

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