#97: O uso de motos como alternativa ao trânsito das grandes cidades

Vamos concordar: o trânsito nas grandes cidades é um pesadelo. Seja em São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outra grande cidade, passar horas preso em congestionamentos faz parte da rotina. É nesse contexto que entram em cena as motos, uma alternativa popular e crescente para navegar no caos urbano. Neste artigo, vamos falar sobre a utilização das motos como alternativa à mobilidade urbana e como elas estão se tornando uma opção atrativa para passageiros e entregas em centros urbanos, apesar de todas as polêmicas.

Contexto geral

De acordo com um estudo da CNT (Confederação Nacional do Transporte), motoristas brasileiros gastam, em média, 22 dias por ano presos no trânsito. Nas capitais, esse número pode ser ainda maior, chegando a quase 30 dias em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Isso não só afeta a produtividade, mas também contribui para o estresse, problemas de saúde e até questões ambientais, devido ao aumento das emissões de gases poluentes por veículos parados.

Contudo, é importante considerar que o trânsito é mais do que um incômodo: ele também reflete o desequilíbrio na infraestrutura de mobilidade urbana e na gestão do espaço público. Enquanto carros ocupam um espaço desproporcionalmente grande nas vias, as motos surgem como uma alternativa viável e eficiente – não por acaso, dados do IBGE revelam que o número de motocicletas nas ruas cresceu 75% nos últimos 10 anos, sendo a grande maioria delas utilizada como ferramenta de trabalho, seja em serviços de entrega ou transporte de passageiros.

Apesar disso, as motos estão longe de serem a solução para todos os problemas. Segundo a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), motociclistas são as principais vítimas de acidentes de trânsito, representando cerca de 38% dos casos fatais em 2022. Isso reforça a necessidade de investimentos em infraestrutura adequada, como faixas exclusivas (como a “faixa azul”, implementada em algumas avenidas de São Paulo) e campanhas de conscientização para um trânsito mais seguro.

Ainda assim, não há como ignorar que, para muitos, a moto é a única alternativa viável tanto financeiramente quanto em termos de mobilidade. Imagine que você está atrasado para uma reunião importante: seu carro está preso em um mar de veículos e o tempo está passando. Agora, visualize uma moto cortando o trânsito e chegando ao destino na metade do tempo. Elas são ágeis, rápidas e conseguem acessar lugares onde veículos maiores não chegam, aumentando cada vez mais a sua popularidade.

Motos em cima da faixa na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio: número de motociclistas vem crescendo pelo país (Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo)

Uber e 99 vs Prefeitura de São Paulo

Recentemente, a polêmica em torno do uso de motos para transporte de passageiros ganhou destaque com as empresas de aplicativos Uber e 99 disputando o mercado desse modal em São Paulo, oferecendo o serviço em bairros periféricos, onde o transporte público é mais escasso, e se apoiando em uma decisão federal que permite este tipo de serviço – atualmente, cerca de 3.300 municípios em todo o Brasil (aproximadamente 60% do total) já operam um modelo de transporte de passageiros por moto (popularmente chamado de “mototáxi”).

No entanto, críticos ao modelo – incluindo o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes – apontam preocupações com a segurança. De um lado, Uber e 99 defendem que o uso de motos amplia o acesso ao transporte em áreas menos atendidas e oferece uma alternativa econômica e ágil para os usuários, além de ser uma oportunidade de geração de renda para motociclistas em regiões de alta demanda. Destacam, ainda, que a prioridade deve ser a regulamentação e a segurança, e que o alto índice de acidentes envolvendo motociclistas é uma preocupação legítima, onde apenas uma estrutura regulatória sólida poderá assegurar que esse modal cresça de forma sustentável e responsável.

Por outro lado, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, afirmou que, embora compreenda a necessidade de ampliar as opções de mobilidade, é essencial que sejam estabelecidos critérios claros para a operação desse tipo de transporte. Nunes ressaltou que a prefeitura está avaliando formas de regulamentar o serviço, priorizando a segurança dos passageiros e dos motociclistas. Além disso, ele destacou a importância de campanhas de conscientização e educação no trânsito para minimizar os riscos, mas entende que até que todas as alternativas sejam analisadas e implementadas, as empresas não deveriam operar este tipo de transporte na cidade.

O prefeito reeleito de São Paulo Ricardo Nunes é contra a implementação do transporte de passageiros por motos na cidade (Foto: Taba Benedicto / Estadão)

O papel das motos na logística urbana

Além do transporte de passageiros, as motos são essenciais em um setor que exige agilidade e precisão: o de entregas rápidas. Desde um lanche no intervalo do trabalho até um documento urgente ou suprimentos médicos, elas garantem que as entregas ocorram de maneira eficiente e no prazo.

Uma das maiores vantagens das motos é a capacidade de acessar locais onde outros veículos enfrentariam dificuldades, como ruas estreitas, vielas ou áreas com restrições de estacionamento, tornando as motos uma ferramenta indispensável para empresas de entrega e logística, especialmente em grandes centros urbanos com trânsito intenso e desafiador. Vale lembrar também que as motos apresentam um consumo de combustível significativamente menor e demandam menos gastos com manutenção em comparação com veículos maiores, o que as torna uma ótima escolha econômica e estratégica.

E ainda há a agilidade: a capacidade das motos de contornar congestionamentos reduz drasticamente o tempo necessário para completar uma entrega. Isso beneficia tanto os clientes, que recebem seus pedidos mais rapidamente, quanto os entregadores, que podem otimizar suas rotas e realizar mais entregas em menos tempo, refletindo diretamente em maior produtividade e, consequentemente, em mais dinheiro no bolso.

As motos já representam uma grande oportunidade como fonte de renda na realização de entregas, e a expansão do uso para transportar passageiros é vista por muitos como algo benéfico para fomentar o mercado.

Para quem trabalha com logística, este tema é um ótimo exemplo de como a dinâmica do mercado pode moldar tendências de transporte e como as empresas se adaptam às demandas dos consumidores. Então, da próxima vez que você se deparar com um engarrafamento ou precisar de uma entrega rápida, pense em como a agilidade sobre duas rodas vai além de uma simples tendência: é uma resposta real às necessidades das grandes cidades.

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