#105: Cabotagem

A cabotagem tem o potencial de desafogar rodovias, reduzir custos e tornar a logística mais eficiente e sustentável. No entanto, apesar de suas vantagens, esse modal ainda é subutilizado no Brasil. O que impede seu crescimento? E como ele poderia revolucionar o transporte de mercadorias no país? Neste artigo, vamos explorar os desafios da cabotagem, suas vantagens e os caminhos para torná-la uma opção mais competitiva na logística brasileira.

A história

Sebastiano Caboto, navegador italiano que “emprestou” seu nome à técnica de navegação costeira.

Cabotagem é o transporte de mercadorias entre portos de um mesmo país, sem a necessidade de atravessar fronteiras internacionais. Em um país com dimensões continentais como o Brasil, onde mais de 90% do transporte de cargas é feito por rodovias, esse modal pode reduzir custos, desafogar estradas e diminuir a emissão de poluentes. A prática de navegar entre portos de um mesmo país existe há séculos e foi essencial para o crescimento de civilizações costeiras. No Brasil, a cabotagem ganhou força no período colonial, quando navios transportavam produtos como açúcar e ouro entre diferentes capitanias. Com o passar do tempo, no entanto, o modal rodoviário passou a dominar, reduzindo o uso dessa alternativa.

A título de curiosidade, o termo “cabotagem” tem origem no nome do navegador italiano Sebastiano Caboto, que viveu no século XVI. Ele explorou as costas da Europa e da América navegando próximo ao litorais, tornando-se um dos pioneiros desse tipo de transporte.

Vantagens da cabotagem

A redução de custos é uma das principais vantagens da cabotagem em comparação ao transporte rodoviário, uma vez que o transporte marítimo consome menos combustível por tonelada transportada, tornando-se mais eficiente em termos energéticos. Um único navio pode transportar o equivalente a centenas de caminhões, reduzindo significativamente os gastos com combustível e manutenção. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a cabotagem pode representar uma economia de até 30% em trajetos longos quando comparada ao transporte rodoviário, e essa diferença de custo pode ser determinante para empresas que buscam otimizar sua logística e reduzir despesas operacionais.

Outro benefício importante da cabotagem é a segurança no transporte de mercadorias. O Brasil enfrenta um alto índice de roubos de cargas, especialmente em regiões metropolitanas e rodovias movimentadas – de acordo com dados da NTC&Logística, somente em 2024, foram registrados mais de 14 mil roubos de carga no país. Esse problema gera prejuízos milionários para empresas e impacta diretamente no custo final dos produtos. No modal marítimo, esse risco é muito menor, pois as cargas transportadas por navios estão menos expostas a ações criminosas.

A sustentabilidade também é um fator decisivo para a expansão da cabotagem, pois os navios são mais eficientes em termos de emissão de poluentes, liberando menos gases de efeito estufa por tonelada transportada em comparação com os caminhões. Segundo estudos do International Maritime Organization (IMO), o transporte marítimo pode emitir até 75% menos CO₂ por tonelada-quilômetro do que o rodoviário. Em um cenário global onde empresas e consumidores estão cada vez mais preocupados com a pegada de carbono, adotar a cabotagem como alternativa ao transporte rodoviário pode representar uma vantagem competitiva para empresas que desejam alinhar suas operações a práticas mais sustentáveis.

A cabotagem é uma alternativa eficiente para reduzir custos e tornar a logística mais sustentável.

Por que a cabotagem ainda é subutilizada no Brasil?

Apesar das vantagens, a cabotagem ainda enfrenta desafios no Brasil. A burocracia é um dos principais entraves, pois o setor enfrenta regulamentações complexas que dificultam a entrada de novas empresas e tornam os processos logísticos mais demorados. Além disso, a infraestrutura portuária também representa uma barreira, já que muitos portos brasileiros não estão preparados para um grande fluxo de embarcações de cabotagem, o que limita a expansão desse modal. A escassez de terminais exclusivos para a cabotagem e a demora nos processos de atracação e desembarque também impactam a eficiência das operações.

Outro fator relevante é a cultura rodoviarista do país. Desde a década de 1950, o governo investiu fortemente na malha rodoviária, moldando a logística brasileira em torno do transporte por caminhões. Essa dependência histórica tornou o modal rodoviário a opção mais comum para as empresas, mesmo quando existem alternativas mais eficientes. Além disso, a falta de incentivos à cabotagem é outro problema, já que o diesel subsidiado para caminhoneiros torna o transporte rodoviário mais atrativo financeiramente. A ausência de uma política mais robusta para equilibrar os custos entre os modais dificulta uma migração mais significativa para a cabotagem.

Outro desafio importante é a limitação da frota nacional. A frota de embarcações destinadas à cabotagem ainda é reduzida, e a construção ou importação de novos navios enfrenta altos custos e exigências regulatórias. Além disso, há a necessidade de mais investimentos em tecnologia e digitalização para tornar o processo mais ágil e competitivo em relação a outros modais.

No entanto, apesar de ainda não ser amplamente utilizada, a cabotagem vem crescendo no Brasil. Em 2024, segundo a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), o volume de cargas transportadas por cabotagem cresceu 7,6% em relação ao ano anterior, movimentando 320 milhões de toneladas. Esse crescimento é impulsionado por iniciativas como o BR do Mar, programa que busca reduzir a burocracia e ampliar a competitividade do modal. Além disso, algumas empresas já começaram a enxergar a cabotagem como uma alternativa viável para reduzir custos logísticos e emissões de CO₂, contribuindo para uma cadeia de suprimentos mais sustentável.

Caminhos para ampliar o uso da cabotagem

Para que a cabotagem se torne uma alternativa mais competitiva e amplamente utilizada no Brasil, algumas medidas podem ser adotadas para reduzir barreiras e incentivar o crescimento desse modal:

Desburocratização e simplificação regulatória: a criação de um ambiente regulatório mais ágil e transparente pode facilitar a entrada de novas operadoras no setor e diminuir os custos operacionais.

Investimentos na infraestrutura portuária: melhorar os portos existentes e ampliar a quantidade de terminais dedicados à cabotagem permitiria operações mais eficientes e ágeis, o que inclui a modernização de sistemas de atracação, ampliação de áreas de armazenagem e otimização dos processos alfandegários.

Fomento à construção e aquisição de embarcações: incentivos fiscais e linhas de financiamento específicas podem viabilizar a ampliação da frota dedicada à cabotagem, tornando o modal mais acessível para diferentes tipos de cargas e empresas.

Integração com outros modais: o desenvolvimento de uma logística intermodal eficiente, conectando a cabotagem a ferrovias e rodovias, pode aumentar a atratividade desse transporte, otimizando a distribuição final das cargas e reduzindo custos e tempo de deslocamento.

Revisão dos subsídios ao transporte rodoviário: o subsídio ao diesel e outros incentivos ao transporte rodoviário distorcem a competitividade entre os modais. Uma política de equalização de custos poderia estimular as empresas a migrarem para a cabotagem quando essa for a opção mais eficiente e sustentável.

Campanhas de conscientização e incentivo ao uso do modal: muitas empresas ainda desconhecem as vantagens da cabotagem; programas de incentivo e esclarecimento sobre os benefícios desse modal podem estimular mais empresas a adotá-lo como parte de sua estratégia logística.

Com a implementação dessas ações, a cabotagem pode se consolidar como um pilar importante da logística brasileira, reduzindo custos, diminuindo a dependência do transporte rodoviário e tornando a matriz de transporte do país mais equilibrada e sustentável.

Com mais investimentos e integração entre modais, a cabotagem pode transformar a logística nacional.

Agora que você conhece os benefícios da cabotagem, já pensou como ela poderia mudar a logística do Brasil? Imagine cidades com menos caminhões entupindo avenidas, empresas economizando e o meio ambiente sendo menos impactado. Parece um cenário ideal, mas que está ao nosso alcance. A pergunta que fica é: quando vamos aproveitar todo esse potencial?

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