#117: Logística no frio: como as operações se adaptam no inverno

A chegada do inverno muda muita coisa na rotina: os dias ficam mais curtos, o corpo acorda mais devagar e os cafés quentes passam a ganhar companhia até nas reuniões online. Na logística, o impacto não é diferente, ainda que mais discreto aos olhos de quem apenas recebe a entrega em casa. Operar em tempos de frio exige mudanças, e mesmo que aqui não tenhamos mudanças drásticas que envolvem gelo na pista ou algo do tipo, há uma série de pequenas adaptações que, somadas, mantêm tudo funcionando do centro de distribuição ao entregador que bate à porta. Bora conferir?

📊 Como o inverno mexe na logística

Um levantamento do Observatório Nacional de Transporte e Logística mostra que, entre junho e agosto, há uma redução média de 6% na produtividade das operações urbanas nas regiões sul e sudeste. Esse número considera atrasos, pausas adicionais e desvios por conta de condições climáticas desfavoráveis, como nevoeiros e temperaturas abaixo de 5 °C.

Já em centros logísticos, segundo uma pesquisa da ABRALOG, 45% das empresas relataram ter planos de contingência específicos para o inverno, ainda que simples, que passam desde o reforço de estoque até a reorganização de turnos.

📦 No e-commerce, o clima dita o ritmo

O crescimento das compras online transformou centros de distribuição em verdadeiros formigueiros, e isso não muda no inverno: o que muda é o ritmo. Funcionários precisam de mais pausas, equipamentos precisam de mais atenção e a operação demanda ajustes finos. Em algumas regiões do Brasil, o frio atinge temperaturas que interferem diretamente na produtividade: quem carrega caixas ao ar livre, por exemplo, sente o impacto do vento gelado nas primeiras horas do dia. Por isso, algumas empresas costumam ajustar turnos, realizar o revezamento de funções externas e reforçar os uniformes para manter o time confortável.

Grandes players, como Mercado Livre e Amazon, realizam ajustes na climatização de galpões, reduzem janelas de exposição térmica e intensificam o monitoramento de temperatura em áreas críticas, principalmente onde há armazenagem de produtos sensíveis.

🛒 Varejo alimentar: cuidados redobrados com perecíveis

No setor de alimentos, o frio não diminui o trabalho; ao contrário: ele exige atenção maior. Hortifruti, carnes e laticínios exigem armazenagem e transporte com controle térmico, e o inverno muda o comportamento de consumo, o que pressiona a logística a se adaptar. Com a demanda do consumidor migrando nessa época do ano para os caldos, massas e alimentos mais “quentes”, isso muda a priorização de pedidos, a preparação de kits e até o abastecimento de lojas físicas, que passam a girar o estoque em outro ritmo.

Outro ponto importante: o frio externo interfere no equilíbrio térmico dos ambientes climatizados. Parece contraditório, mas manter um armazém a 4°C pode ser mais difícil quando lá fora faz 2°C. Isso acontece porque os sistemas são projetados para resfriar, e não para aquecer. Por isso, quando a temperatura externa está abaixo da interna, há risco de resfriamento excessivo, formação de condensação e até falhas nos sensores de controle. Nesses casos, manter a estabilidade térmica vira o principal desafio, exigindo ajustes finos na automação e até o uso de barreiras físicas para evitar trocas de ar indesejadas.

🚴 Delivery urbano: menos chuva, mais vento

Nas grandes cidades, as plataformas de entrega enfrentam um inverno diferente. O frio não costuma impedir as entregas, mas muda as condições de trabalho e o comportamento do consumidor. A redução de chuvas em algumas regiões favorece as entregas de bicicleta e moto, mas por outro lado, o vento frio e o aumento da sensação térmica podem afetar a saúde e a performance dos entregadores. Plataformas como iFood e Rappi costumam adaptar os incentivos e reavaliar rotas nos horários com maior desconforto térmico.

Restaurantes e mercados parceiros também ajustam horários de atendimento, planejam melhor a saída dos pedidos e, em alguns casos, fazem promoções específicas para aquecer a demanda noturna, que costuma cair quando a temperatura despenca.

🏭 Armazéns e operações industriais: ajustes de dentro pra fora

O inverno também traz impacto para quem opera dentro dos centros de distribuição ou fábricas. Em muitas regiões, não há sistemas de aquecimento nos galpões, o que torna o ambiente de trabalho mais exigente.

Empresas reforçam o uso de EPIs térmicos, reorganizam áreas de convivência e, em alguns casos, flexibilizam pausas para permitir recuperação térmica. Além disso, as tarefas que exigem maior esforço físico ao ar livre (como descarregamento de caminhões) costumam ser realocadas para horários com temperaturas mais amenas.

🔁 Operar no inverno é uma questão de ritmo

No fim das contas, a logística não precisa parar por causa do frio, mas precisa, sim, mudar de ritmo. O inverno não exige soluções heroicas, mas convida as empresas a prestarem mais atenção ao detalhe, ao conforto de quem opera e à previsibilidade das rotas e processos. Esse tipo de adaptação, silenciosa e gradual, é o que permite que uma sopa chegue quente, que um medicamento sensível continue estável e que aquela compra online feita no fim de semana bata à porta no prazo.

Seja em um centro de distribuição ou um entregador pedalando nas ruas, o frio exige planejamento, e é justamente essa capacidade de adaptação que diferencia as operações que seguem entregando com excelência, em qualquer estação.

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