O dilema é antigo, mas segue atual: toda vez que uma empresa pensa em adotar uma nova tecnologia na logística (seja um sistema de roteirização, rastreadores, um WMS para o armazém ou um TMS para toda a cadeia logística) a pergunta vem em forma de desafio: isso é um gasto ou vai realmente trazer retorno? A resposta curta: depende. A resposta longa: vamos conversar sobre isso.
🫨 Quando a tecnologia assusta mais do que ajuda
Imagine que você precisa organizar as entregas de amanhã e tem que cruzar manualmente pedidos, regiões, horários e disponibilidade da frota. Leva horas, certo? Agora imagine que esse processo, que ocupa boa parte do seu dia, poderia ser feito em minutos com uma ferramenta simples de roteirização. Quanto vale esse tempo? Quanto custa continuar perdendo ele todos os dias? É aí que a lógica do “investimento” começa a fazer mais sentido.
Na prática, muitas organizações ainda veem a tecnologia como uma espécie de “luxo operacional”, um gasto extra que pode ser adiado. E o motivo é compreensível: o retorno não é imediato. Você não vê uma planilha mágica mostrando no dia seguinte que o sistema novo cortou 18% dos seus custos. Isso leva tempo, exige integração, adaptação, capacitação da equipe… e isso tudo custa.
⏮️ Entender o passado ajuda a decidir o futuro
A tecnologia e a logística têm uma relação antiga, embora nem sempre isso fique evidente à primeira vista. Ao longo das décadas, marcos importantes transformaram a forma como as operações logísticas são conduzidas, e muitos desses avanços começaram sendo vistos apenas como gastos ou riscos.
Em 1956, por exemplo, a padronização do contêiner marítimo mudou completamente o comércio global. O que parecia apenas um “caixote de metal” se mostrou uma revolução na movimentação de cargas. Na época, quem apostou na novidade teve que arcar com custos iniciais altos. Mas quem resistiu à mudança acabou perdendo competitividade no mercado.
Já na década de 1980, começaram a surgir os primeiros sistemas de gerenciamento logístico nos Estados Unidos e na Europa. Essas soluções eram lentas, caras e cheias de falhas técnicas, mas foram essenciais para abrir caminho aos sistemas integrados que conhecemos hoje, como os ERPs e os TMS. O que parecia incômodo virou base estrutural.
Nos anos 2000, a chegada da rastreabilidade por GPS trouxe um novo patamar de controle. Antes disso, transportadoras basicamente torciam para que o caminhão chegasse ao destino. Hoje, acompanhar o trajeto em tempo real é praticamente obrigatório e impensável trabalhar sem isso em muitas operações.
A partir de 2020, com a pandemia, o movimento de digitalização das cadeias de suprimento foi acelerado à força. As empresas que já tinham tecnologia embarcada conseguiram se adaptar com mais rapidez. Já aquelas que ainda operavam de forma analógica correram atrás do prejuízo, muitas vezes sem tempo hábil para competir em pé de igualdade.
No fim das contas, toda inovação nasce como um custo. Mas, com o tempo, ela se torna o novo padrão. E quem não acompanha essa evolução acaba ficando para trás.
📊 E na prática: o que é custo e o que é investimento?
Vamos sair um pouco da teoria. Pensa numa empresa de médio porte que entrega produtos em cinco cidades. O gerente decide adquirir a licença de um sistema de roteirização. A primeira reação do financeiro: “só para otimizar a rota? Não dá pra fazer isso no Excel?”
O sistema custa R$ 3.000 por mês. Mas em dois meses, os dados mostram que:
- A quilometragem média caiu 15%;
- O tempo de entrega reduziu em 22%;
- Os motoristas passaram a fazer mais entregas por rota com menos horas extras;
- O índice de reclamações dos clientes por atraso caiu pela metade.
E aí: é custo ou investimento?
Segundo uma pesquisa da McKinsey de 2022, empresas que implementam tecnologias avançadas em logística (como IoT, IA e automação de armazéns) conseguem reduzir seus custos operacionais em até 30%. Além disso, aumentam a previsibilidade e resiliência da cadeia de suprimentos, dois temas que ganharam enorme relevância após o colapso logístico de 2020.
E mais: uma reportagem da Exame publicada em 2023 mostrou que 82% das empresas brasileiras que investiram em tecnologia logística nos últimos dois anos declararam que já perceberam retorno tangível em produtividade, controle e redução de perdas. Esses dados ajudam a desmistificar a ideia de que tecnologia é só “pra quem tem dinheiro sobrando”.
A pergunta que poucos fazem: e o custo de não investir? Sim, porque todo mundo calcula o custo de adotar uma tecnologia, mas quase ninguém calcula o custo de não adotar.
- Quanto tempo você perde porque não tem visibilidade sobre o estoque real?
- Quantos pedidos com erro poderiam ser evitados com automação?
- Quanto você gasta em combustível porque as rotas são feitas no “achômetro”?
O “não fazer nada” é uma escolha com preço. E ele costuma ser alto.
🪙 Nem tudo que brilha é ouro (mas dá pra polir)
Claro, não dá para romantizar. Nem toda solução tecnológica entrega o que promete. Às vezes, o sistema é bom, mas a implantação é ruim. Ou a equipe não é treinada. Ou o processo da empresa precisa de ajuste antes de receber a tecnologia.
Por isso, investir em tecnologia não é comprar software. É comprar uma mudança de cultura operacional. É entender que o retorno vem com tempo, alinhamento, dados, pessoas e paciência.
Tecnologia na logística é sim um investimento, mas como todo investimento, ele precisa de análise. Exige visão estratégica, não imediatismo. Não é sobre “comprar algo novo”, é sobre pensar o futuro da operação com mais inteligência, controle e eficiência.
E talvez o maior erro seja tentar justificar a tecnologia olhando só para o quanto ela custa hoje e não para o quanto ela vai evitar de perdas amanhã.
📝 Resumão
- A tecnologia começa como custo, mas se paga com eficiência, redução de erros e escalabilidade.
- O histórico mostra que inovações logísticas são sempre adotadas primeiro por quem está disposto a correr riscos e depois se tornam obrigatórias.
- Não investir também tem custo, e ele geralmente é mais difícil de identificar.
- A implementação precisa ser acompanhada de gestão, capacitação e revisão de processos.
- Decidir com base no hoje pode ser mais caro do que parece.
No fim das contas, enxergar a tecnologia na logística como custo ou investimento depende menos da etiqueta que colocamos nela e mais da forma como decidimos usá-la. Ao longo do tempo, o que hoje parece gasto pode ser justamente o que vai garantir controle, agilidade e competitividade para o seu negócio. Então vale a pena olhar para sua operação com um pouco mais de lupa: quantos processos ainda dependem de planilhas manuais, decisões no improviso ou “soluções caseiras” que custam mais do que parece? Faça o exercício de comparar a sua rotina atual com os ganhos que a tecnologia já provou ser capaz de entregar. Talvez a resposta já esteja ali, só esperando um investimento bem feito para aparecer.