Planejar rotas é muito mais do que decidir qual caminho seguir: é uma escolha que envolve custos, prazos, eficiência operacional e, no fim, a satisfação do cliente. Entre os modelos mais comuns estão a roteirização fixa e a roteirização dinâmica, cada um com suas vantagens e limitações. Vamos explorar como cada modelo funciona, seus pontos fortes e fracos e de que maneira eles podem ser aplicados em diferentes cenários do dia a dia das empresas.
📄 Conceitos
De forma simplificada, a roteirização fixa é aquela em que os trajetos são previamente estabelecidos e repetidos de maneira padronizada, como acontece em uma linha de ônibus: os pontos de parada e o percurso estão definidos e dificilmente sofrem alterações. Já a roteirização dinâmica se adapta conforme a demanda, de maneira muito parecida com os aplicativos de transporte: cada vez que alguém solicita uma corrida, o sistema calcula o caminho mais adequado, considerando fatores como trânsito, distância, regras operacionais e particularidades dos clientes.
Enquanto a roteirização fixa valoriza a padronização e a previsibilidade, a dinâmica privilegia a flexibilidade e a eficiência em tempo real. Até os anos 90, a maior parte das empresas brasileiras dependia de roteirização fixa, frequentemente desenhada manualmente em mapas físicos ou organizada em planilhas simples, pois a tecnologia existente ainda não permitia cálculos rápidos e complexos. Com a chegada do GPS, a evolução tecnológica e a facilidade de acesso a sistemas de roteirização, esse cenário mudou, e algoritmos passaram a cruzar variáveis em segundos para permitir que o planejamento das rotas fosse adequado à realidade de cada dia.
🗓️ Roteirização fixa: previsibilidade e rotina
A roteirização fixa tende a ser mais econômica em sua gestão, já que garante custos previsíveis e permite criar uma rotina de atendimento estável, além de ajudar a construir um relacionamento de confiança com clientes que se beneficiam de horários regulares. Por isso, o seu uso é recomendado quando o atendimento possui uma rotina fixa, com pouca ou nenhuma variação de demanda.
Um exemplo desse tipo de demanda são as rotas de vendedores, que visitam sempre os mesmos clientes em frequências fixas, mantendo uma regularidade linear. Mesmo que haja uma alteração na lista de visitas pela abertura ou fechamento de clientes, é possível absorver pequenas alterações dentro da estrutura já definida sem a necessidade de refazer todo o planejamento das rotas o tempo todo.
Porém, a rigidez desse modelo limita a flexibilidade quando é necessário fazer alterações maiores, o que pode impactar toda a rota já desenhada e comprometer prazos de atendimento. Além disso, quando utilizada em operações logísticas (coleta e entrega de mercadorias), a roteirização fixa pode gerar desperdício de tempo e combustível em dias de menor demanda. O veículo percorre o trajeto completo, mesmo que não haja necessidade de atender todos os clientes ou bairros da lista, ou seja, roda mais do que o necessário e aumenta os custos sem trazer ganhos proporcionais.
Resumidamente:
- ✅ Maior previsibilidade de custos
- ✅ Horários mais regulares
- ❌ Pouca flexibilidade diante de imprevistos
- ❌ Pode gerar desperdício de tempo e combustível em dias de menor demanda
🫨 Roteirização dinâmica: sempre um passo à frente dos imprevistos
A roteirização dinâmica proporciona melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, pois há um ajuste constante no uso de veículos com uma melhor reação às restrições externas, como particularidades no atendimento e variação na demanda. Esse modelo é mais adequado às operações de distribuição, onde o cenário de roteirização será construído com base no volume de vendas de cada dia, distribuindo os pedidos entre as rotas com foco na melhor utilização dos recursos. Como a venda tende a variar diariamente – tanto em volume quanto nos clientes que compraram e, consequentemente, nas restrições de atendimento que cada um possui – roteirizar “todo mundo junto” e ver qual é a melhor proposta para aquele cenário se torna uma excelente maneira de maximizar a eficiência operacional.
Mas como nem tudo é tão fácil, é importante ter em mente que a roteirização dinâmica exige apoio tecnológico constante. Para que ela funcione de forma eficiente, é necessário contar com dados atualizados sobre pedidos e clientes (não só com relação aos endereços, mas também suas restrições de atendimento e respectivas particularidades). Sem essa base confiável, o risco é de que o sistema monte rotas pouco viáveis ou que não tragam os resultados esperados.
Além disso, a implementação desse modelo costuma exigir investimentos em sistemas de roteirização inteligentes, integração com outras plataformas e treinamento constante da equipe, e esses custos podem ser bastante significativos, especialmente para empresas menores. Embora o retorno a médio prazo seja positivo, a entrada nesse universo pede planejamento financeiro e clareza sobre os objetivos da operação.
Em outras palavras:
- ✅ Melhor aproveitamento de recursos
- ✅ Capacidade de se ajustar ao fluxo de pedidos e restrições
- ❌ Exige tecnologia de apoio e dados atualizados
- ❌ Custos iniciais mais altos para implementação
🤔 Mas afinal, qual modelo é melhor?
Uma pesquisa da Exame indicou que, em 2023, cerca de 70% das transportadoras de médio porte no Brasil já utilizavam algum tipo de roteirização dinâmica para atender ao crescimento das entregas rápidas, especialmente no modelo same day delivery. Já a ABRALOG em 2024 constatou que empresas que migraram da roteirização fixa para a dinâmica reduziram, em média, 18% dos custos operacionais por quilômetro rodado, mas muitas enfrentaram dificuldades justamente na coleta e organização das informações necessárias para sustentar esse novo modelo.
Com base nesses números, quer dizer então que a roteirização dinâmica é melhor? Não necessariamente. Não existe uma resposta única sobre qual modelo é melhor, pois ambos têm prós e contras, e como comentamos anteriormente, vai depender da sua aplicação: uma roteirização fixa para as rotas dos vendedores é mais vantajosa, mas os pontos positivos desaparecem se você precisa realizar entregas com volumes e em locais diferentes todos os dias. Portanto, o primeiro passo é analisar qual é o cenário geral da empresa, quais regras precisam ser aplicadas e a maturidade dos processos.
Também é importante considerar o estágio em que a empresa se encontra: para negócios em crescimento, a roteirização fixa pode ser um ponto de partida mais simples e acessível, ajudando a consolidar processos e a entender melhor a demanda. Com o tempo e o aumento da complexidade, a transição para a roteirização dinâmica tende a ser natural, acompanhando a necessidade de controlar custos e atender a um número maior de clientes de forma eficiente.
Outro aspecto decisivo é a tecnologia disponível, pois sem ferramentas de apoio, a roteirização dinâmica se torna inviável. Por outro lado, empresas que já contam com sistemas de gestão, integração de dados e monitoramento em tempo real podem explorar todo o potencial da dinâmica e obter ganhos expressivos. No fim das contas, o melhor modelo não é aquele que parece mais moderno, mas sim o que responde melhor às particularidades de cada operação.
No fim das contas, discutir roteirização fixa e dinâmica é falar sobre como cada empresa enxerga a própria operação e os caminhos que deseja seguir. Não existe fórmula pronta, mas sim escolhas estratégicas baseadas em dados, tecnologia e objetivos de negócio. O importante é lembrar que rotas não são apenas linhas traçadas em um mapa: elas representam custos, eficiência, satisfação do cliente e até a competitividade da empresa no mercado. Por isso, mais do que decidir entre um modelo ou outro, o desafio está em usar a roteirização como uma aliada inteligente para transformar deslocamentos em resultados.