#133: Operações de fretamento

Quando o tema é transporte na logística, é comum que a mente vá direto aos caminhões, frotas, rotas e prazos. No entanto, existe uma engrenagem silenciosa que sustenta boa parte das operações industriais e logísticas do país, uma operação que não transporta mercadorias, mas pessoas: estamos falando das operações de fretamento.

Pouco visível ao público externo, o fretamento é o mecanismo que garante que as linhas de produção iniciem suas atividades no horário, que os centros de distribuição tenham equipes completas e que a logística, em sua essência, continue funcionando com previsibilidade.

🚐 A função estratégica por trás do fretamento

O fretamento consiste no transporte coletivo e organizado de pessoas em veículos de uso exclusivo, como ônibus, micro-ônibus ou vans, com horários e itinerários definidos conforme a necessidade de cada empresa. Pode atender tanto a deslocamentos diários, como o trajeto entre casa e trabalho (fretamento contínuo), quanto a demandas pontuais, como eventos ou treinamentos corporativos (fretamento eventual).

Embora à primeira vista possa parecer um serviço de transporte comum, o fretamento é, na prática, uma operação logística aplicada à mobilidade de pessoas. Por isso, exige planejamento de rotas, gestão de frota, monitoramento de horários, análise de custos e controle de indicadores operacionais, exatamente como ocorre no transporte de cargas.

Vamos a um exemplo prático: imagine uma empresa com 250 colaboradores que precisam estar no centro de distribuição às 5h30 da manhã. Em cidades grandes, o transporte público raramente atende a esses horários, e a distância entre os bairros residenciais e a base operacional pode chegar a 30 ou 40 quilômetros. O fretamento surge nesse cenário como a alternativa mais eficiente, garantindo pontualidade e reduzindo ausências, além de melhorar o bem-estar dos colaboradores.

O transporte público raramente é a melhor opção para quem precisa chegar cedo ao trabalho; ainda assim, em muitos casos, infelizmente é a única alternativa disponível.

🚏 A evolução histórica do fretamento no Brasil

O modelo de fretamento corporativo se consolidou no Brasil na década de 1970, período marcado pela expansão das zonas industriais no sudeste e no sul. À medida que as fábricas se deslocavam para regiões periféricas, crescia a necessidade de transportar trabalhadores de maneira organizada e regular, e foi nesse contexto que surgiram as primeiras empresas especializadas em fretamento contínuo.

Com o avanço tecnológico, a operação também evoluiu. Nos anos 2000, surgiram sistemas de rastreamento via GPS, monitoramento em tempo real e comunicação digital entre motoristas e centrais de controle. Atualmente, o mercado já fala em fretamento inteligente, no qual aplicativos permitem que os passageiros reservem assentos, acompanhem o trajeto e avaliem o serviço, tudo isso em tempo real.

Dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) indicam que o número de empresas registradas para fretamento cresceu mais de 40% entre 2010 e 2020, acompanhando a interiorização dos polos logísticos e a expansão dos centros de distribuição. Além disso, empresas do setor automotivo que adotaram o fretamento corporativo reduziram em 18% o absenteísmo e registraram ganhos médios de 12% em produtividade, justamente por garantirem o transporte previsível e seguro dos colaboradores.

📋 O planejamento como fator determinante

Por trás de uma operação de fretamento eficiente, há uma lógica semelhante à das rotas de entrega: otimizar trajetos, reduzir custos e garantir a regularidade do serviço.

Empresas de grande porte já utilizam softwares de roteirização (em alguns casos, os mesmos aplicados na logística de cargas) para desenhar linhas de transporte de colaboradores. Esses sistemas cruzam dados de origem, tempo de deslocamento e horários de entrada para construir percursos ideais, evitando sobreposição de rotas e otimizando a ocupação dos veículos. O resultado é duplo: ganho operacional e conforto humano. Motoristas percorrem trajetos mais eficientes, os custos com combustível e manutenção diminuem, e os colaboradores chegam ao trabalho no horário, sem o desgaste dos longos deslocamentos individuais.

Além da eficiência, o fretamento também desempenha um papel ambiental relevante: um único ônibus fretado pode substituir até 30 automóveis particulares, reduzindo significativamente as emissões de CO₂ por pessoa transportada. Empresas de grande porte vêm testando soluções com ônibus elétricos ou movidos a biocombustíveis como parte de suas metas ESG. A Ambev, por exemplo, anunciou em 2024 o compromisso de eletrificar 50% de sua frota de fretamento até 2030, uma iniciativa que alia sustentabilidade à eficiência logística. Além da redução de emissões, há impactos sociais: o fretamento contribui para diminuir o trânsito urbano, reduz o risco de acidentes e melhora a qualidade de vida dos colaboradores.

🛜 A digitalização das operações e o “fretamento inteligente”

A transformação digital também vem redefinindo o modelo de fretamento corporativo através de soluções integradas que permitem o acompanhamento completo das operações, da reserva de assentos ao controle de custos.

O conceito de fretamento inteligente une mobilidade corporativa, tecnologia e análise de dados. Plataformas especializadas permitem o rastreamento em tempo real dos veículos, notificações automáticas aos usuários e painéis de desempenho com indicadores de pontualidade, consumo e ocupação média.

Essas ferramentas trazem para o transporte de pessoas o mesmo nível de controle e precisão que já se espera das operações logísticas mais avançadas, ou seja, é a convergência entre mobilidade e logística, transformando o fretamento em uma operação estratégica e totalmente integrada à gestão da cadeia de suprimentos.

🧠 E aí, sabia de tudo isso?

O fretamento raramente aparece nas manchetes ou nas conversas sobre inovação logística, mas é, sem dúvida, um dos pilares silenciosos que sustentam a eficiência operacional. Ele conecta pessoas, sincroniza turnos e garante que toda a engrenagem produtiva funcione no tempo certo. Em última análise, o fretamento é mais do que um serviço de transporte: é uma estratégia de continuidade operacional, sendo o elo que permite que a logística de mercadorias aconteça, dia após dia, com pessoas no lugar certo, na hora certa.

Então, na próxima vez que você vir um ônibus com a plaquinha “Fretado”, pense: aquele veículo pode ser o responsável por fazer uma grande operação começar no horário, um turno não parar e um cliente final receber seu produto dentro do prazo.

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