#137: O papel do motorista na eficiência da operação

Entre algoritmos, dashboards brilhando no monitor e discussões acaloradas sobre IA e automação, existe um personagem silencioso, mas absolutamente central, que faz o mundo físico se mover: o motorista. Sim, ele mesmo. A pessoa atrás do volante, cruzando cidades, desviando de buraco, lidando com cliente mal-humorado, pressão de horário, fiscalização, sono, estrada ruim e, muitas vezes, sem sequer ter um banheiro decente na rota.

Enquanto a tecnologia avança, ainda não criaram um software capaz de substituir o bom senso na estrada, a habilidade de ler o trânsito, a calma diante do inesperado e, talvez o mais valioso, a capacidade de representar a empresa em cada entrega. Curioso como falamos tanto de eficiência, produtividade e nível de serviço, mas por décadas ignoramos quem realmente entrega os resultados, não é? É hora de mudar o roteiro.

👥 O que nunca colocaram no KPI

A eficiência logística sempre foi medida por números: tempo de entrega, OTIF, consumo de combustível, taxa de devolução, nota do cliente, etc, mas existe um componente “não dito” que historicamente ficou fora da equação: o fator humano do motorista.

Pesquisas da American Trucking Association já mostravam lá em 2019 que empresas com programas de treinamento contínuo reduzem em até 30% incidentes de segurança e 12% o consumo de combustível. Isso antes do boom de digitalização na logística. Hoje, o impacto é ainda maior. Mas vamos descer para o cotidiano? Porque não adianta falar bonito se a realidade é outra:

  • O motorista que acelera e freia bruscamente aumenta o gasto de combustível.
  • O motorista que não revisa o caminhão antes de sair corre o risco de quebrar no meio da rota.
  • O motorista que não registra entregas corretamente pode gerar retrabalho interno e reclamação do cliente.
  • O motorista que não se comunica vira um ponto cego na operação.

Isso sem falar na postura com o cliente: já percebeu que, muitas vezes, quem define se a experiência é boa ou ruim não é o SAC, nem o gerente de logística… é o motorista na entrega? Simples assim.

🔍 A rotina que ninguém vê, mas todo mundo sente

Para quem está no escritório, “começou a rota” significa só mais uma linha no sistema. Para quem está na estrada, significa:

  • Pegar o trânsito logo cedo
  • Lidar com chuva, sol forte, buracos ou restrição de tráfego
  • Encontrar cliente que “não está, mas já volta rapidinho”
  • Procurar vaga para encostar o veículo
  • Ouvir o famoso “sobe só uma caixinha ali rapidinho?”
  • Comer em posto porque não deu tempo
  • Sair do bairro x para o bairro y torcendo para que o GPS seja confiável desta vez

E ainda voltar para a base com força para fazer checklist, subir documentos e aguentar mais pressão. Se você acha exagero, olhe esse trecho de uma matéria do G1 em 2023 sobre condições de trabalho de caminhoneiros no Brasil:

“Motoristas chegam a trabalhar 14 horas por dia e esperam até 8 horas para carga e descarga, muitas vezes sem estrutura básica.”

E depois nos perguntamos por que turnover na área é alto.

🛑 Spoiler: pressão não substitui preparo

Tem gestor que acredita que o motorista funciona na base do “cobra mais”, mas sabe o que a prática mostra?

  • O motorista pressionado erra mais
  • O motorista cansado dirige pior
  • O motorista sem apoio abandona a empresa
  • O motorista sem reconhecimento desmotiva

Se você tem turnover alto, antes de culpar o mercado, a gasolina ou o mercúrio retrógrado… pergunte-se: você está cuidando de quem move sua operação? Ferramentas de monitoramento, telemetria, apps de rota, assistentes de jornada… tudo isso é ouro! Mas ouro mal lapidado vira bijuteria. Não existe IA que segure o caminhão na curva, e não existe algoritmo que decida a melhor conversa com o porteiro para agilizar a entrada. O fator humano continua sendo o diferencial.

✨ Provocação final

A logística adora falar sobre futuro, mas talvez a mudança que realmente precisamos seja menos futurista e mais… humana.

A pergunta que fica:

Você está tratando seus motoristas como recursos ou como parceiros estratégicos do seu negócio?

Porque caminhão para, sistema cai, rota muda, mas um motorista bem treinado e valorizado transforma a sua operação. E se sua empresa ainda não entendeu isso, cuidado: tem concorrente que já percebeu.

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